5/23/2005

Dois anos depois, partir para outra

O Henrique, após dois anos de experiência blogosférica, decidiu fazer algumas mudanças na orientação do seu blog.

Percebo, mas também tenho pena, porque ele fez da música, nestes anos, um assunto polémico e, portanto, vivo, o que não é pouco.

5/18/2005

Wheel of Emptiness


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Passei o dia todo a ler e a escrever palavras que falavam de música e agora, depois de voltar a escutar este CD, só consigo articular estas: escutem porque vale a pena.

5/17/2005

Faleceu Fernando Magalhães

Foi noticiado ontem o falecimento de Fernando Magalhães, jornalista do PÚBLICO desde a fundação do jornal. Especialista em música, os seus artigos foram ao longo de toda a sua carreira exemplo de crítica esclarecida, de gosto pela descoberta e de boa disposição.

A sua ausência far-se-á sentir.

Correr o risco de inaugurar com uma estreia

O novo teatro de ópera de Copenhaga fez uma espécie de dupla inauguração.

Primeiro, há algumas semanas, apresentou a ópera Aida, de Verdi. Nestes dias está a fazer a sua «verdadeira» estreia com uma nova obra de Poul Ruders, encomendada para o efeito e baseada no Processo, de Kafka.

As críticas, porém, tem sido bastante pouco entusiastas. Podem confirmá-lo aqui, aqui, e aqui.

5/16/2005

Requiem Survey

Um site que, inexplicavelmente, desconhecia e cuja visita se recomenda. Há referências - bem entusiastas, de resto - a diversas obras de compositores portugueses, entre os quais Lopes-Graça.

Mais do mesmo

Lido no NY Times:

«You have to admire the Met's willingness to add this curiosity [Cyrano de Bergerac, ópera em quatro actos de Franco Alfano] to its repertory. Still, the company has yet to present any opera by Michael Tippett, Hans Werner Henze, Olivier Messiaen or several other 20th-century giants. Lucky Alfano has Mr. Domingo pushing for him.»

Em 1936, Alfano recusou-se a assinar o «Manifesto di musicisti italiani per la tradizione dell'arte romantica degl'Ottocento», mas a sua ligação com o fascismo está documentada a partir de 1923.

5/15/2005

Representativo

Mário Mesquita, no PÚBLICO de hoje, começa a sua coluna dominical com a seguinte frase: «A vantagem de quem não pertence à categoria dos guardiões do panteão literário, que chamam a si a gloriosa tarefa passar certificados de imortalidade, é a possibilidade de escolher caprichosamente as leituras, sem demasiada preocupação com o destino que a comum opinião de doutos e menos doutos - ou tão-só dos que controlam os aparelhos de difusão da cultura (mediáticos e escolares) - reservará aos respectivos autores.»

Há dias, desde o fabuloso concerto que os Takács ofereceram no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, que estou a pensar na questão do «representativo» na música, de resto no seguimento das leituras sobre historiografia que ando a fazer ultimamente por causa do projecto docente que em Espanha é requerido para avançar na carreira universitária. O quarteto incluiu no programa três obras «representativas» do género e de três períodos da história da música, da autoria, respectivamente, de Haydn, Borodin e Beethoven.

O que interessa não é apenas a análise do papel assumido pelos «guardiões da história» desde o século XIX, do seu surgimento como mediadores institucionalizados e das metamorfoses da sua função até ao século XX, mas também as amplas consequências da adaptação da história, especificamente da história das artes, ao paradigma da cientificidade, fundamentada do ponto de vista teórico em dois conceitos principais: período e estilo, que, por sua vez, usam como ferramenta legitimadora principal a ideia de «representatividade». É óbvio que não estou apenas a pensar na relação com a realidade (um quadro que representa tal «coisa» do mundo sensível), mas na ideia de que uma obra ou um autor possam conter ou sintetizar valores, o «espírito do seu tempo» (ou da sua classe, ou de uma ideologia, ou de uma corrente estética...) e da função que, subsequentemente, assumem as palavras que objectivam essa representatividade no exercício efectivo do poder.

Claro que isto não é, de todo, novo. Como sabem, há décadas que Michel Foucault pensou esta questão. Veja-se, também, como casos aplicados, o impressionante Representative words: politics, literatura and the american language, de Thomas Gustafson. E, no que diz respeito à inevitável presença do elitismo não-democrático na democracia representativa, The Principles of Representative Government, de Bernard Manin. Por acaso, ou talvez não, os dois livros foram publicados pela Cambridge University Press. Do segundo há tradução espanhola, publicada na Alianza Editorial, mas não sei se está traduzido em português.

Já agora, e como estamos a falar de exercícios de poder, é significativo que Mário Mesquita tenha omitido (ou esquecido, pouco importa) na sua classificação dos «aparelhos de difusão da cultura» o adjectivo universitário.

5/12/2005

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A legalidade das redes P2P como causa

No passado dia 4, Jorge Cortell defendeu em público, numa palestra, a legalidade das redes P2P em Espanha. O interesse da sua história é que, dias antes, enviou um fax para várias instituições (polícia, sociedade de autores espanhola...) anunciando esta intenção. Nos últimos dias, tem vindo a dramatizar no seu blogue, clicar aqui, os preparativos e desenvolvimentos posteriores à sua façanha, obtendo um sucesso que pode ser avaliado pelo seu eco na blogosfera.

A polícia não o prendeu, mas a sua iniciativa mecheu com a casposería cañí lá do sítio (puedo permitirme estas cosas cuando escribo sobre vuestros hermanos, es a lo que lleva el exceso de confianza...). O reitor da Universidade Politécnica de Valencia boicotou a conferência e, depois, mandou-o embora: pelos vistos, foi fulminantemente despedido do «master» onde colaborava (oferecido pela referida universidad).

5/09/2005

Lyon e Paris descobrem Janacek

Vejam como aqui.

Adeus B. Leza

Soube agora, pelo Plasticina, que o B. Leza está prestes a fechar.

Sempre me admirou o reduzido impacto que a cultura africana parece ter em Portugal. Pelo menos essa é a impressão que tenho, embora nunca tenha pensado seriamente no assunto.

Algumas cicatrizes são difíceis de sarar.

The Long Tail

Um artigo imprescindível, lembrado na sexta-feira passada no blog de Enrique Dans (também ele, imprescindível).

5/08/2005

Perceber o cinzento

Neste fim de semana de exaltação órffica, julgo que é útil pôr aqui o link para uma interessante recensão da autoria de David B. Dennis, feita a propósito de um artigo de Michael H. Kater dedicado às relações de Carl Orff com o nazismo. Para complicar as coisas, cabe referir que o citado Kurt Huber - musicólogo e instigador do movimento de resistência A Rosa Branca - sim foi membro do partido nazi, onde ingressou em 1940.

O pecado dos Carmina Burana já tinha sido denunciado no Blogue de Esquerda no Natal passado, sob o mote do "triunfo da amnésia". De resto, Leon Botstein, em 1999, já tinha colocado a questão nos seguintes termos: «And will the political significance of modernism in the 1920s and 1930s - its role as an anti-Fascist aesthetics - be forgotten as future generations continue to delight in Carl Orff's Carmina Burana without any recognition of its troubling provenance as affirmative art in the service of radical evil?»

Vem também a calhar a referência, na coluna de Helena Matos no PÚBLICO de ontem, à publicação, em Chile, do livro Salvador Allende: Antisemitismo y Eutanasia, da autoria do filósofo Víctor Faria. Podem ler aqui um arrepiante comentário, publicado num jornal chileno no passado mês de Abril, e, aqui, uma mostra do uso do livro e da subsequente polémica como arma de demolição ideológica por parte de um jornal liberal espanhol.

Erich Kahn na Colecção Berardo

Posted by Hello


Este CD, editado pela Channel Classics em 1991, pode ser comprado na net - claro - e também no vestíbulo do Museu de Arte Moderna de Sintra. Acontece que, até Outubro próximo, decorre nesse museu uma exposição centrada na obra de Erich Kahn, "Judeu Sobrevivente - Expressionista Alemão". Uma boa parte do arquivo do pintor foi recentemente adquirido para integrar a Colecção Berardo e esta é, portanto, a primeira vez que a sua obra é apresentada em Portugal.

Ainda estou sob o efeito da visita à exposição (feita, de facto, de quatro exposições que se complementam). Custa resumi-la em três palavras, até acho que vou precisar de lá voltar, mas não custa, de todo, recomendá-la vivamente.

5/07/2005

O verdadeiro culpado

Hoje estou com um ataque agudo de bloguite. Mas, se nestes dias não tenho escrito aqui nada, a culpa não foi apenas do trabalho, [que me cura de todo mal e que também me faz pensar em coisas chatas e pouco bloguíticas].

Amanhã, na Pública poderão ler uma entrevista com o verdadeiro culpado: Javier Marías, de quem decidi ler este ano a obra completa. Acabo de saber disso no "Mil Folhas" de hoje, onde é comentado o recente lançamento em Portugal do primeiro volume de Tu rostro mañana, da sua autoria.

Lorin Maazel, compositor estreante

Duas críticas péssimas de The Guardian e The NY Times a propósito da primeira ópera de Lorin Maazel, estreada esta semana na ROH, em Covent Garden. A do Times também não foi simpática. O crítico do Telegraph foi o mais benévolo.

No seu blog, Jessica Duchen, no passado dia 4, colocou a "questão" da ópera de Maazel num contexto diferente, mas um outro crítico de The Independent (onde ela colabora), apesar das três estrelinhas que lhe deu, também não parece ter saído muito contente do espectáculo.

A revolução pós-modernista

Lido (e reproduzido aqui sem a devida vénia, mas espero que ninguém leve a mal) no óptimo Bajja, como comentário suscitado por um lúcido manifesto de César Viana em favor da criatividade:

Um revolucionário pós-modernista said...

O que nós - aqueles que pensamos ter algo a dizer sobre o assunto, perdoem-me a arrogância - temos de fazer é "apenas" movermo-nos de forma a contribuir - nem que seja milimétricamente - para a alteração do estado das coisas.
A arte, desde sempre, precisou de patrocínio. Ponto final. A arte não é essencial. Aceitemos isso. E portanto, é uma actividade absolutamente magnífica e que em muito contribui para o cumprimento dos estádios mais elevados da condição humana, claro, mas que depende essencialmente de estarem cumpridas as condicões primárias de subsistência do ser humano para que haja sequer a hipótese de a sociedade aceitar a inevitabilidade da sua existência. Dito isto, penso que decorre daí que, no mundo economicista que nos rege hoje - que não é o de Maecenas, apesar da figura patética do mecenato que se foi buscar...- é absolutamente necessário que os artistas em vez de "pedincharem" apoios se afirmem na sociedade civil, seja acedendo aos postos que lhes dão poder, seja afirmando-se nos meios académicos, seja atirando à cara da sociedade a irrecusabilidade dos seus projectos artísticos. Meus caros, tomemos o poder! Lutemos nas instâncias próprias - aquelas que possuem o poder de decisão. No mundo actual, em que o euro/dollar é que dita o destino, os artistas têm de fazer a revolução por dentro do sistema. Morram os burocratas da cultura, Pim; Morram os políticos desinformados, Pim; Morram os programadores dos compadrios, Pim; Morram os educadores instalados, Pim!

Una questão tola

Escutei há pouco a entrevista dada à TSF pelo brilhante Mariano Gago. Estava ele a alertar para os graves desafios com os quais se defronta hoje o ensino superior português - a concorrência internacional, o elevado número de adultos que não frequentam a formação permanente... - quando o jornalista que a conduzia se lembrou de lhe fazer uma pergunta a propósito das propinas.

O ministro reagiu logo: esse tema nem sequer está na agenda, o ensino superior português debate-se com problemas gravíssimos, estando em causa a possiblidade real do país permanecer numa situação de subdesenvolvimento irreversível... E o convencido jornalista, enquanto o ministro tentava colocar o debate na perspectiva certa, teimou e teimou, defendendo a pertinência da sua tola questão. Tola, em termos absolutos e ainda mais tola no contexto do processo de Bolonha.

Pensei para os meus botões: olha um adulto que precisa de reciclagem urgente. Depois, porém, atacou-me a virose do fatalismo. Quod natura non dat, Salamantica non praestat.

5/06/2005

Mais sobre o EEES

Mais um artigo sobre o debate em torno do EEES em Espanha.

Não é de opinião, mas lembra os pontos principais da discussão.

5/05/2005

EEES

Clicar aqui para ficar a conhecer uma fria visão do processo de implantação do Espaço Europeu de Educação Superior. A leitura recomenda-se, sobretudo àqueles que estão profissionalmente ligados às humanidades.

Outros textos do mesmo autor: aqui e aqui (este último a propósito da situação particular da filosofia neste processo).