8/10/2009

Peter Evans em Jazz em Agosto

Como se faz uma crítica a um concerto de jazz? Na realidade, a questão que me coloco é mais esta: quais são as palavras que alguém que costuma fazer crítica de concertos de música erudita deve escolher para descrever e comentar a experiência de um concerto de jazz? A necessidade e a dúvida surgiram depois de um dos concertos do festival Jazz em Agosto, o recital a solo de Peter Evans do passado dia 7. O jovem trompetista era uma das estrelas programadas por Rui Neves. O seu recital suscitou a curiosidade dos interessados no género e julgo que esteve à altura do que se esperava. Admirou-me a proximidade do seu universo com aquele que costumo frequentar. Afinal, aquilo a que assisti se enquadrou na mais pura tradição musical romântica, mais específicamente no virtuosismo e na sua procura do transcendente através do som. O domínio técnico do instrumento estava alí, com a sua vertente quase diria atletica. Estava igualmente o impacto sonoro e a vertigem, sempre emocionante, da improvisação. Mas também vivimos o drama, o nascimento e extinção de uma poesia cujo impacto foi muito para além do meramente espectacular. Pergunto-me se o público de Liszt sentiria algo muito diferente durante os seus recitais.