A crítica à última montagem do Liceu - um Otello encenado por Willy Decker e dirigido por Ros Marbà, com José Cura no papel titular – não tem tido uma recepção unânime.
Vi a representação de ontem através da net, graças ao projecto Òpera Oberta, e, globalmente, pareceu-me um espectáculo bastante fraco. Tenho ainda fresco na memoria o Otello que abriu a presente temporada do São Carlos e tive de preparar o seminário de apresentação da obra na minha universidade. Isso também não contribuiu para motivar a minha benevolência.
A desafinação-de-estudantes-de-conservatório dos contrabaixos da orquestra do LIceu que precedeu a entrada de Otello no quarto acto parecer-me-ia suficiente para dar nota negativa à execução que, sob a batuta de Ros Marbà, nunca ultrapassou o nível do medíocre. José Cura como protagonista, também não deixa saudades e a Desdemona de Krasimira Stoyanova (uma excelente cantante, essa sim, elogiada por todos) teria sido melhor apreciada com outros companheiros. No entanto, eu, fiel que sou à minha Theodossiu, ainda me arrepio a pensar na sua Canção do Salgueiro e na sua Ave Maria, enquanto a Stoyanova não me provocou a menor empatia. É verdade – aceito – que estar no teatro é outra coisa.
A encenação de Decker é uma reposição da estreada no teatro de La Monnaie na década passada. Com o seu acento na ruptura com a fé cristã de Otello, que chega a quebrar uma cruz em palco, fez-me pensar na polémica do momento. Os Jagos desta planetária e sangrienta encenação actuam como imaginaram Shakespeare e Verdi.