Afinal, a festa ambvisual da Ouvê foi um acontecimento daqueles que melhoram quando contados em conversa ou descritos numa página web. Vividos, nem por isso. Estava frio e o que se encontrava lá dentro não era nada de especial. Contudo, havia muitas dezenas de pessoas à porta, esperando para espreitar o que se estava a passar no átrio da Escola Superior de Dança.
Deixando, porém, de lado o objecto – vídeos e uma dupla escolha de sons para escutar através de headphones e uma produção com alguns problemas difíces de resolver – e esquecendo a sua origem importada, o projecto levanta algumas questões interessantes.
Sobretudo, chamou-me a atenção o propósito de ocupar e “dinamizar”, como se diz agora, um espaço, como também se diz, que ainda não tem dono em Portugal, explícito aliás na web da associação que promoveu o evento. Refiro-me às múltiplas manifestações criativas ligadas às novas tecnologias e ao cruzamento de diversos “media” inseridas na nova “cultura digital”. A música electrónica – nas suas múltiplas variantes – seria apenas um dos seus aspectos.
Não é que em Portugal não existam organizações a dinamizar o dito espaço: pense-se, na zona de Lisboa, na Granular, na Miso Music, que promove o Festival Música Viva, ou na Restart, que se dedica à formação. O que não há é nenhuma organização que o hegemonize, integrando as suas vertentes minoritárias e maioritárias e utilizando a sua capacidade para intervir no domínio do denominado marketing das cidades.
Um bom modelo disto seria o SÓNAR de Barcelona. Tem público, é muito abrangente do ponto de vista artístico e cola a cidade à imagem da vanguarda tecnológica. Pelo menos, o SÓNAR parece que tem uma produção e um efeito publicitário impecáveis (os prédios de habitação que caem como consequência da incompetência nas obras de expansão do metro são apenas verdades que não estragam a boa história - com a vénia da Grande Loja do Queijo Limiano).