Andei nos últimos tempos por terras de Castela e Leão a falar sobre a vida musical lisboeta na mudança do século - a vários interessados alunos de doutoramento da Universidad de Salamanca que, porém, nunca visitaram este jardim à beira-mar plantado - e tenho estado afastada por isso - entre outras coisas - das minhas incursões blogueiras. Não há tempo para tudo.
Tive, no entanto, tempo para assistir ontem ao concerto da OML, dedicado à música de Wagner e de Beethoven. Sob a batuta de Michael Zilm, a Orquestra - que tenho escutado ultimamente em vários concertos bons - transfigurou-se. Não correram tão bem os Wesendonck-Lieder, mas a audição do Idílio de Siegfried e da Terceira de Beethoven foram experiências inesquecíveis. O rigor da regência de Zilm é indiscutível e bem conhecido dos melómanos lisboetas, e espero que continuemos a desfrutar dela no futuro. Um dos melhores momentos da presente temporada orquestral foi a sua interpretação, no passado mês de Outubro, à frente da Orquestra Gulbenkian, de La Valse, de Ravel. Estou já com impaciência para presenciar o seu próximo concerto.
Quanto à OML, a coisa é um pouco diferente. A sua imagem ficou bastante prejudicada pelo "affaire" Graça Moura e pelos seus rocambolescos episódios subsequentes. Por isso, pode ser uma surpresa para muitos escutar, passados apenas uns meses, um agrupamento jovem e formado por músicos excelentes a responder com empenho e enorme seriedade ao gesto do maestro. Com Du Xuan e Alexei Tolpygo à frente dos violinos, o naipe corre o risco de se tornar no melhor deste lado do Tejo. Ontem, ouviram-se, com um som cheio, os contrabaixos e os violoncelos. Excelentes, ainda, as trompas. E eu, pela minha parte, continuo a ter um fraquinho pela oboé solista. Estes destaques são, de facto, injustos: o elogio deve ser feito a todo o agrupamento.
Parece, portanto, que temos orquestra (pelo menos, quando dirigida por alguém da craveira de Michael Zilm...). Se acreditarmos nas bondades da concorrência, em Lisboa, apenas teriamos de nos congratular com isso.