É curioso que a encenação do Vick não tenha tido nenhum eco, por assim dizer, político na blogosfera. Por comparação com o centenário do Mozart – quando todos nos apressamos a dar opiniões e a comentar o filme Amadeus, ou, então, a criticar aqueles que o faziam –, a estreia do Ouro do Reno tem passado quase em silêncio. Não há wagnerianos em Portugal? Será que os colaboradores dos blogues mais visitados não vão à ópera?
Esta omissão, digo eu, deveria ser, até, motivo de frustração para Graham Vick, o qual desenvolveu uma abordagem distanciada para, actualizando-a, retirar qualquer verniz mitológico à obra de Wagner. Por exemplo, (como assinalou, embora en passant e de forma bastante confusa, A. M. Seabra no Público), sublinhou um dos sub-textos do Ouro, associando os malefícios do poder à tecnologia. Temos, assim, em palco gigantes da construção, nibelungos viciados em tecnologia da informação e deuses possuidores de armas de destruição massiva…
Achei divertido que a crítica do Financial Times omitisse a referência à caracterização dos nibelungos como yuppies amarrados à cocaína, aos portáteis e às cotações da bolsa. A menhor maneira de neutralizar os efeitos críticos da provocação é ignorá-la. Mas será que a provocação, num espaço como o São Carlos, é possível?