5/08/2005

Perceber o cinzento

Neste fim de semana de exaltação órffica, julgo que é útil pôr aqui o link para uma interessante recensão da autoria de David B. Dennis, feita a propósito de um artigo de Michael H. Kater dedicado às relações de Carl Orff com o nazismo. Para complicar as coisas, cabe referir que o citado Kurt Huber - musicólogo e instigador do movimento de resistência A Rosa Branca - sim foi membro do partido nazi, onde ingressou em 1940.

O pecado dos Carmina Burana já tinha sido denunciado no Blogue de Esquerda no Natal passado, sob o mote do "triunfo da amnésia". De resto, Leon Botstein, em 1999, já tinha colocado a questão nos seguintes termos: «And will the political significance of modernism in the 1920s and 1930s - its role as an anti-Fascist aesthetics - be forgotten as future generations continue to delight in Carl Orff's Carmina Burana without any recognition of its troubling provenance as affirmative art in the service of radical evil?»

Vem também a calhar a referência, na coluna de Helena Matos no PÚBLICO de ontem, à publicação, em Chile, do livro Salvador Allende: Antisemitismo y Eutanasia, da autoria do filósofo Víctor Faria. Podem ler aqui um arrepiante comentário, publicado num jornal chileno no passado mês de Abril, e, aqui, uma mostra do uso do livro e da subsequente polémica como arma de demolição ideológica por parte de um jornal liberal espanhol.