10/24/2007

Forum de discussão sobre a educação artista em Portugal

Carlos Araújo Alves, do Ideias Soltas, teve a generosa ideia de criar um forum dedicado à discussão de temas relacionados com a educação artística. Chama-se precisamente assim: Educação Artística FORUM. Propõe-se, nas palavras do próprio Carlos:

numa atitude de incentivar uma cidadania activa e participada, estimular um
debate público e aberto sobre os rumos da Educação Artística em Portugal. Num
momento em que foi publicado um "Roteiro para a Educação Artística", um
"Relatório de Avaliação do Ensino Artístico" e se leva a cabo uma "Conferência
Nacional de Educação Artística", é indispensável a existência de um espaço de
opinião livre e independente, onde os mais directamente envolvidos - os
pedagogos da área, os artistas, os pais, os alunos, os directores pedagógicos de
escolas de educação artística eseus gestores - possam ter voz e ser ouvidos,
coisa que até ao momento parece ainda não ter sido possível.

Talvez seja apenas do interesse de uma minoria, mas acho que isso nem sequer deveria ser tomado em consideração. Pela minha parte, eu gostava muito de poder ler nesse forum opiniões de agentes directamente implicados com a educação artística, muito particularmente com a musical. Vamos ver se tenho essa sorte.

10/23/2007

Dívida

O Paulo foi muito simpático e desafiou-me, há três meses (ups!), a contar no meu blog as minhas últimas cinco leituras. Vou mencionar unicamente aquelas que terminei mesmo agora o que estou a ler principalmente por (ou com) prazer. Ou seja, ando igualmente entretida com outras leituras de escravatura (para as aulas, para notas de programa e para artigos) que, julgo eu, não vale a pena referir agora.

Les Antimodernes, de Antoine Compagnon (Éditions Gallimard, 2005). Há uma boa tradução para castelhano na editora El Acantilado, deste ano. Imagino que Compagnon terá sido atacado pela direita e pela esquerda por causa deste livro. Eu, que já tinha lido Le démon de la théorie, de 1998, e que tinha apenas folheado o seu impressionante estudo sobre a citação, fiquei fascinada com este ensaio. Consegue dar a volta às nossas idées/lectures reçues sobre el modernismo. E está maravilhosamente bem escrito.

Franz Liszt. The Weimar Years, 1848-1861, de Alan Walker. O livro é de 1989 e já o tinha consultado como leitura de escravatura. Foi aliás por isso, por causa de umas notas para um concerto da Orquestra Gulbenkian em que foi tocada a Sinfonia Fausto, que voltei a usá-lo. Não sei o que aconteceu: desta vez, o estilo singelo e entusiasmado de Alan Walker conseguiu absorver a minha atenção e acabei devorando-o inteirinho. Agora pretendo começar Reflections on Liszt, de 2005.

Metamorfosis, de Ovidio, na tradução para castelhano da editora Cátedra. Confesso que nunca tinha lido de fio a pavio e dá jeito para muitas situações, particularmente, quando se gosta de visitar galerias de arte antiga com uma criancinha de sete anos...

Cien poemas, de John Donne, edição bilingue e tradução de Carlos Pujol, publicados pela Pre-Textos em 2003. Este acompanha-me desde Setembro. Apesar de cantar muitas vezes nos seus versos à Primavera, é uma boa leitura de Outono.

Parzival, de Wolfram von Eschenbach, editado pela Biblioteca Medieval Siruela em 1999. Por enquanto, só fala em complementos de moda (capas de seda verde e coisas no género) e em amores... Parece a Marie Claire. Estes wagnerianos deveriam rever com cuidado as suas fontes.

Já agora, Paulo, eu gostava de saber o que achaste de Todas las almas, de Javier Marías, autor que, como sabes, eu andei a ler há dois ou três anos.

10/22/2007

Kempff inédito



El pianista Wilhelm Kempff, que se dedicó también a la composición, pertenece a esa generación de intérpretes que creía en la verdad de la música y que despreciaba serenamente el mero efecto pirotécnico como medio para impresionar a la audiencia. Ésos son los principios en los que se fundamenta su raro talento para poner en evidencia el crecimiento, formal y sonoro, de las obras que formaron parte de su repertorio. Kempff conseguía esto sin explosiones retóricas, con una sabia dosificación de la tensión y una paleta maravillosamente aterciopelada de colores y ataques que ponen en relieve todos los detalles significativos para el entendimiento de cada obra.

En su caso, además, la contención no está reñida con la emoción. Todos los cortes de este doble CD, recientemente editado por la etiqueta muniquesa Orfeo a partir de grabaciones inéditas realizadas en la Radio de Colonia hacia 1960, lo prueban, desde los primeros compases de la Fantasía op. 17 de Schumann. Si tienen la oportunidad de escucharlo, tal vez experimenten el mismo estremecimiento que a mí causó la versión aquí incluida del Intermezzo en mi bemol menor de Brahms.

10/20/2007

Nuno Nabais, meu herói

Ao contrário do Henrique, que relata no seu último post um concerto desastroso da OSP dirigido por José Cura, eu regresso à blogosfera movida pelo entusiasmo e pela admiração.

Ontem, como tinha esquecido em Espanha os meus vestidos de gala, decidi não passar pelo São Carlos (o João diz que também não foi por outras razões que, por acaso, partilho). Fui, com calças de ganga, para a Fábrica Braço de Prata escutar a música que tinham para oferecer quatro músicos (com M grande): José Parrinha (Clarinetes), Nuno Rebelo (Guitarra), Rodrigo Pinheiro (Piano) e Miguel Pereira (Contrabaixo). Excelente, como era de esperar.

Porém, o que me emocionou vivamente foi passear por um espaço que tinha tido a oportunidade de visitar cinco meses atrás, guiada por Nuno Nabais. Na altura, só se podia adivinhar com um grande esforço de imaginação aquilo que o Nuno queria para aquelas salas abandonadas. Hoje, a realidade é um local mágico, efervescente de criatividade e de boa disposição.

Vão. Usem, abusem. Desfrutem. Façam parte do século XXI.

Chamei-lhe superhomem, uma piada sem piada para elogiar alguém é um grande especialista em Nietzsche. O certo é que, sem deixar de ser homem, ontem se tornou num dos meus heróis.

7/27/2007

Manifesto da Meloteca

O meu post de despedida, antes de ir para férias, era o anterior. Mas fui agora ver o hotmail do blog, que não via há tempos, e encontrei esta mensagem endereçada por António José Ferreira, o responsável pela magnifica Meloteca. O conteúdo é bem menos agradável do que o do podcast do Carlos, mas julgo que será, infelizmente, de interesse para os internautas melómanos que por aqui passam.

Fica aqui, reproduzido na íntegra:

MELOTECA EXCLUÍDA DE APOIOS

1. Em Setembro de 2003, foi lançada a Meloteca, sem pompa nem apoios. O projecto cresceu, foi reconhecido o seu interesse cultural, e a gestão do projecto tornou-se impossível de realizar cabalmente sem apoios institucionais. Muita informação tem ficado por divulgar por manifesta falta de tempo. Por essa razão, o Projecto foi em devido tempo candidatado aos apoios pontuais 2007 do Iartes.

2. A Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular reconheceu "o manifesto interesse deste projecto enquanto suporte ao desenvolvimento das competências estéticas e artísticas", mas não o apoiou; o chefe da Casa Civil do Presidente da República considera que a Meloteca tem interesse mas não cumpre os critérios para obter o simbólico Alto Patrocínio do Senhor Presidente; a Fundação para a Computação Científica Nacional reconheceu ao Projecto "o maior interesse" e uma "qualidade notável", mas também não pôde apoiá-lo; o Instituto Camões considerou que se trata de uma iniciativa de "grande interesse no contexto da divulgação da música portuguesa", mas referiu que não se enquadra na sua missão fundamental.

3. Como a Meloteca e a minha vida profissional me ocupam quase todo o tempo, e eu não sabia quando seriam publicados os resultados, só em finais de Junho fui ver os resultados das candidaturas a apoios do Iartes. Como o projecto tem crescido de forma sustentada e é reconhecido por numerosos músicos de grande mérito, espantado fiquei quando vi que a Meloteca tinha sido pura e simplesmente excluída. Como dos motivos de exclusão do Manual de Procedimentos nenhum era aplicável, pedi uma explicação. Motivo da exclusão: apoios cumulativos. Que apoios cumulativos?

4. A Meloteca foi apoiada em 2006 com 1500 (!) euros pela Delegação Norte do Ministério da Cultura para o biénio 2006/2007. Todavia, 1500 euros é um apoio insignificante para os custos com ferramentas (software), cursos de Informática, computador e sua manutenção, electricidade, banda larga e servidor... No país que tanto investe na inovação, não há um sequer possibilidade de obter um computador portátil nem oportunidades para projectos deste tipo. Quem já têm formação qualificada e quer fazer melhor neste campo de novas tecnologias não tem oportunidades para melhor promover a cultura.

5. Há que referir que os 1500 euros são relativos ao biénio 2006/2007. Na prática, ter recebido 150 contos para o ano de 2007 impediu simplesmente que a candidatura fosse apreciada. Se a lei é essa, é uma lei cega e injusta, colocando em pé de igualdade apoios de 750 €, 7500 ou 20000, por exemplo. Obviamente, se o motivo aparecesse com clareza entre os motivos de exclusão, não teria perdido dias e dias a preparar a candidatura. No futuro, se candidatar a Meloteca ao apoio do MCNorte e obtiver um apoio, mesmo que simbólico, já não posso concorrer aos apoios do Iartes; mas se não concorrer, é ainda mais provável não receber qualquer apoio, nem de um lado nem de outro.

6. Há um colaborador da Meloteca que está neste momento a trabalhar voluntária e gratuitamente cerca de 3 horas por dia e a fazer viagens que paga do seu bolso. Sem apoios, como posso promover a formação permanente, técnica e específica de quem colabora no projecto e dar-lhe alguma compensação? Além das minhas ocupações profissionais, tenho dedicado ao projecto cerca de 1000 horas anuais. Não passarei a aplicar essas horas em trabalho remunerado nem deixarei de lado a Meloteca, porque ela é, para mim, mais do que uma profissão.

7. Enquanto se esbanja tanto dinheiro, se pagam milhões a gestores públicos e se indemnizam quando são substituídos sabe-se lá por que motivo, a cultura e a música continuam a alimentar-se das migalhas de banquete.

8. A Meloteca, livre e independente de subsídios, continuará a trabalhar pela qualidade da democracia no âmbito da música, a contribuir para que os músicos portugueses tenham mais oportunidades, a manifestar efectivo apreço pelas regiões de Portugal, a promover um pensamento musical português. Sem poder cumprir o projecto apresentado ao Iartes, a Meloteca continuará, apesar de tudo, a prestar um serviço público e a colmatar lacunas na Música, na Cultura e na Educação.

António José Ferreira

Castigo às avessas

Por causa do tau-tau que eu dei no Edelmiro, o Carlos castigou-me com este podcast que se recomenda: maravilhoso sempre e perfeito para entrar, escutando-o, no período de férias. Isso é, precisamente, o que eu vou fazer daqui a umas horas.

7/26/2007

Corigliano rocks



Creo que ya conté en el blog que el motivo de mi ida a Santander fue entrevistar a John Corigliano. El artículo ha salido hoy en Mundo Clásico. Voy a tener la oportunidad de conversar más despacio con él este verano, para hablar, entre otras cosas, del encargo que el Servicio de Música de la Fundación Calouste Gulbenkian le ha hecho, juntamente con otras instituciones europeas y americanas, para la próxima temporada. Una suerte y un verdadero placer.

7/20/2007

La columna de la derecha

Sigue tan caótica-alfabética como hace unas semanas. En realidad, un poco más, porque acabo de incluir otras tres entradas: una portuguesa, la del útil blog del Coro Ricercare, otra luso-neerlandesa, la del blog del excelente barítono Armando Possante (distinto apreciador de música disco), y la de un tercero, escrito desde Bogotá. Se trata del interesante blog de Mauricio Peña.

7/19/2007

¿Por qué le llaman gusto, cuando quieren decir moral?

Estaba todavía en Santander cuando leí, en el ABC, la noticia de que cincuenta abonados del Teatro Real habían enviado una carta a los patrocinadores y benefactores del coliseo madrileño protestando por las puestas en escena que “hieren la sensibilidad del público”, particularmente las concebidas por Calixto Bieito y Carlos Amat, respectivamente, para Wozzeck, de Berg, y El viaje a Simorgh, de Sánchez Verdú.

Así, sobre la puesta en escena de Bieito, afirman


que «denigra de forma explícita a la mujer mediante la doble violación de su supuesto cadáver», y se «insulta a la dignidad humana» mediante la retirada, en fase de ahogo terminal, de la mascarilla que da vida a un niño, ayudándole a morir.
Y, a propósito de El Viaje a Simorgh, siempre según el ABC, los firmantes de la carta destacan


«la pornografía que «orienta al progreso» la sensibilidad del público, con sexo explícito entre dos hombres». También se refieren a la «degradación y ridiculización de forma vil e inaceptable de algunos personajes de la Iglesia». Lo que constituye, en opinión de los firmantes, «una clara lesión a los derechos y valores humanos que todos debemos preservar».

Me encanta la expresión “pornografía que orienta al progreso”. Se me pasó la semana pasada. He reparado en ella hoy, leyendo El País Digital, donde hay varias piezas que informan sobre el eco que la carta está teniendo en el medio operístico español.

Ni siquiera a pesar de que critiqué negativamente la puesta en escena de Bieito les voy a alabar el gusto. Mucho menos en lo que se refiere a la de Amat, que sí me gustó.

La carta, retrospectivamente, me ha confirmado la certeza que tuve en su momento de que las críticas que Sánchez Verdú padeció habían sido una respuesta a la valentía – o ingenuidad o inconsciencia, me da igual– de introducir en el Real una crítica tan clara a cualquier forma de fanatismo e intolerancia. Por ejemplo, cuando yo asistí, fueron bastantes las personas que se levantaron ostensivamente en una de las escenas más impresionantes de la obra, cuando se oye, amplificada y circulando amenazadora por la sala, la terrible frase “Dios está con nosotros”. Por eso, por esta reacción que interpreté, iluminada retrospectivamente a la luz del contenido de esta carta, de forma correcta, me sorprendió un poco que, en general, se pasase de puntillas por encima del desafío principal lanzado por Verdú que era, visto de otra forma, un elogio a la libertad individual, al viaje interior.

Curiosamente, esas mismas personas habían soportado ascéticamente la tal escena de pornografía orientada al progreso con la que se inicia la obra. Tal vez porque se sintieron aliviados al ver cómo la Muerte se llevaba a algunos de los pecadores reunidos en el prostíbulo donde se localiza. Lástima que no permanecieran en sus butacas hasta el final: supongo que se hubieran quedado satisfechos al comprobar que el personaje de la Muerte es el único que sobrevive.

En fin, que la cosa no pasaría de un chiste si la continuación de la carta no fuera ésta:
A continuación, solicitan a todos los patrocinadores y benefactores que «exijan» a la dirección del Real información completa sobre las representaciones para evitar a los abonados y aficionados «inserciones imprevistas que no enriquecen sino degradan la calidad de las obras y dejan en entredicho el buen nombre de su empresa».
Aunque no me entiendan mal. Estoy completamente de acuerdo con ellos, tal como lo estoy con Anna Russell: "you can do anything so long as you sing it...". La belleza de la (gran) ópera está ahí.

7/18/2007

Dos libros

uno que he detestado



y otro que estoy devorando con placer



y que hubiera debido reproducir el retrato de su autora en la portada



linda

Con el pretexto de que es verano, y como además el libro de Alma es sobradamente conocido, no me voy a explayar comentándolos.

Aunque tal vez se justifique decir algo sobre la novelita de Echenoz. El problema es que sólo se me ocurren adjetivos poco lisonjeros. Imaginen una docena de anécdotas conocidas relativas a los últimos diez años de vida de Ravel, pegadas las unas a las otras, intercaladas con descripciones de objetos y espacios que pretenden ser épatantes por su inanidad, y presentadas con un estilo ácido y descarnado - esto último me da la impresión que agravado por la traducción al castellano - y que provoca una progresiva irritación porque se toma en serio su intrascendencia. O a lo mejor resulta que tiene sentido del humor en exceso y yo, que ando muy sentimental, no me he enterado. De hecho, el libro ha sido bastante elogiado.

Por cierto, cuando Echenoz menciona el estreno del Concierto en Sol no refiere a Pedro de Freitas Branco. Casi mejor.

7/17/2007

Lisboa retalhada

É claro que isto tem uma explicação: a principal consequência da absurda política urbanistica das últimas décadas foi retalhar a sociedade lisboeta, afastando as pessoas umas das outras e remetendo cada qual para a sua vidinha privada num dia a dia em que os habitantes raramente têm oportunidade de se encontrarem uns com os outros fora do centro comercial ou do hipermercado. O sentimento do viver colectivo e do interesse comum perdem-se numa cidade assim, em que o espaço público primeiro se degrada, e depois quase desaparece.



Lido no sempre excelente Blogoexisto. Fez-me pensar nas salas de concerto lisboetas, tantas vezes à espera de mais público.

7/15/2007

Las virtudes de Pandora, que ahora se muda a Matosinhos

¡Tanto tiempo! El verano, la burocracia universitaria y la provincia combinados dan como resultado una especie de torpor más o menos bien dispuesto, incompatible con el mantenimiento regular de un blog. Ésa es la explicación.

En medio de esa calma, han ocurrido algunas cosas divertidas y otras agradables, claro. Está en la segunda categoría el viaje que he hecho esta semana a Santander. Fui allí para entrevistar a John Corigliano, compositor invitado por la organización del Encuentro y Academia de Música de Santander, un proyecto promovido por la Fundación Albéniz sobre el que valdría la pena escribir un post. La visita estuvo llena de sorpresas agradables. Cuando llegué el pasado lunes, primero, encontré providencialmente un cuarto con vista sobre la playa del Sardinero. Después, me encontré, también por casualidad, con un cuarteto formado hace cuatro años en la Academia Nacional Superior de Orquesta de Lisboa tocando maravillosamente dos de mis obras preferidas.

El Cuarteto Pandora, antes Tacet y, a partir de octubre, Cuarteto de Matosinhos, interpretó la segunda parte de uno de los programas del Encuentro. Tocaron la op. 5, de Webern, y el op. 13, de Mendelssohn. Los había escuchado en 2005, cuando eran todavía Tacet y acababan de ganar el Premio Jóvenes Músicos de la RDP, y me parecieron buenísimos. Ahora, después de un año de durísimo trabajo en el Instituto Internacional de Música de Cámara de Madrid, creado en 2006 por la misma Fundación Albéniz y que funciona en paralelo a la Escuela Superior de Música Reina Sofía, se han convertido en un verdadero cuarteto, con un sonido puro, esmaltado, muy contenidos expresivamente y con una transparencia de textura y formal increíble.

Según me contó Victor Vieira, el primer violín (fantástico, alumno de Aníbal Lima y Gerardo Ribeiro) el cuarteto se va a instalar en Matosinhos. Al menos este próximo año, no obstante, tienen la intención de continuar a trabajar con el que ha sido su profesor en el Instituto, el excelente violinista y pedagogo Rainer Schmidt.

Es un poco tonto que la Câmara les obligue a cambiar el nombre por el de Cuarteto de Matosinhos (por supuesto, no resistí, y tuve que preguntar si también les iban a obligar a salir al escenario vistiendo una camiseta con el escudo municipal...) Aparte de eso, que no es muy afortunado desde el punto de vista del marketing del grupo, me parece magnífico que la Câmara Municipal de Matosinhos haya lanzado este proyecto y que la elección del grupo haya sido realizada por concurso. Esto último lo sé porque, también casualmente, unos días después de conversar con Víctor, uno de los miembros del tribunal me habló maravillosamente sobre ellos y sobre la prueba que realizaron.

Sólo espero que, por muy municipales que vayan a ser a partir de octubre, sean capaces de pensar y actuar, como grupo, por así decirlo, a escala planetaria. Por cierto, aunque no creo que visiten este blog, ¿a qué esperáis para crear la página web del cuarteto?

A seguir con mucha atención, incluso aunque no tengamos más remedio que llamarles en el futuro Cuarteto de Matosinhos.

6/21/2007

De Singapur a Alicante, pasando por Escocia

El Festival de Música de Alicante incluye en la programación de este año una coproducción del Theatre Cryptic y el T’ang Quartet. A partir de obras de Kevin Volans, Franghiz Ali-Zadeh, Rolf Wallin y Joby Talbot, Cathie Boyd, directora artística del Theatre Cryptic, y el T’ang Quartet, cruzando los límites de diferentes artes performativas, han concebido una especie de representación teatral de las piezas musicales elegidas. "Optical Identity" fue estrenado hace unos días en el Festival de Singapur y será presentado el próximo mes de agosto en el de Edimburgo.

Pasen y vean. O, mejor, pasen y escuchen. Escuchen los cuerpos de los músicos del T’ang Quartet y vean la música de Franghiz Ali-Zadeh que ellos interpretan:

Atalhos

Conforme pode ler-se aqui, esta Primavera, Pedro Carneiro, Teresa Simas e Alexandre Dias decidiram fundar a Orquestra de Câmara Portuguesa. As audições estão actualmente a decorrer e o seu primeiro concerto tem data marcada para o próximo dia 13 de Setembro, no CCB, sob a direcção de Pedro Carneiro.

O nome surpreendeu-me: não conhecia esta faceta da sua personalidade artística, que muito admiro, e também não a vejo reflectida na sua biografia oficial. Mas adiante.

Actualmente há, que eu me lembre, três orquestras profissionais sem casa própria em Lisboa: a Sinfónica Portuguesa, a Metropolitana e a Sinfonietta de Lisboa, para além da Sinfónica Juvenil, da Académica da Metropolitana e da Orquestra Jovem do Conservatório Nacional. Não acham um pouco estranha a ideia de criar, do zero, mais uma, promovida aliás pela única casa decente disponível em Lisboa para acolher um agrupamento deste tipo? Será tão complicado falarem, negociarem, chegarem a acordos as instituições já existentes? Esta é, obviamente, uma pergunta retórica: é, de facto, muito complicado, mas tenho o preconceito conservador de que essa é a única via sensata para criar um tecido cultural estável, sem atalhos e protegido de veleidades senhoriais.

Mas, se calhar, digo isto por causa desta época do ano, em que já começo a ver as coisas iluminadas pela agressiva e indiscreta luz do sol estival. Bem pensado, talvez chegou o momento de eu também fazer uma proposta ao CCB. Não sei ainda qual, mas para já, tal como a de Pedro Carneiro, prometo que será ambiciosa.

6/20/2007

Mais sobre o ensino artístico na perspectiva do utente

Agora ando bastante entretida com o trabalho, mas nas pausas para o café lá vou visitando os blogs dos outros: por exemplo, o Ideias Soltas, através do qual regressei ao Insustentável. Ali, o Rogério, num post a propósito da reforma do ensino artístico, narra, na primeira pessoa um recente episódio ilustrativo da sua experiência como utente.

6/17/2007

Ensino artístico

Tenho vindo a acompanhar os debates blogosféricos suscitados pelo Relatório de Avaliação do Ensino Artístico, encomendado pelo Ministério da Educação. Agora acabei de ler o que o Carlos tem escrito sobre o mesmo aqui, aqui e aqui. Nesses posts, desvenda as implicações que – no mundo real – têm as decisões legislativas baseadas no tal relatório.

Conheço essa realidade apenas como utente. Tenho uma filha que, coitada, já se resignou à ideia de que vai ter de aprender a tocar um instrumento musical daqueles que, daqui por umas décadas, só serão lembrados em imagens procuradas através do google. Sendo a mãe integralista que podem ver que eu sou, fiquei particularmente satisfeita, quase comovida, quando, folheando o dito Relatório, os autores me informaram de que, lá no fundo, o que eu tenho é mania de grandeza e a suspeita esperança da minha filha vir a pertencer à elite.

Leiam os posts do Carlos, sobretudo porque ele nunca perde de vista o essencial: a grandeza da música e os caminhos tortos através dos quais os nossos governos fazem com que a ela só tenha acesso uma minoria. Em Espanha consolamo-nos a pensar que, afinal, estamos melhor do que antigamente, mas a realidade é, por exemplo, que as escolas de música municipais com capacidade para pouquíssimos alunos recebem, anualmente, centenas de petições desatendidas de pais desejosos de dar aos seus filhos uma educação musical decente. Há alguns tempos admirei-me ao descobrir que o mesmo acontece em França: falei aliás na altura sobre isso no blog. Obviamente isto é apenas aquilo em que pode reparar uma utente, deixo o resto para os profissionais na matéria.

No entanto, achei curiosos os preconceitos que os autores revelam nos parágrafos em que abordam, displicentemente, o assunto da história do ensino musical em Portugal. O primeiro é um preconceito de género. A feminização do corpo de estudantes não deve ser visto, como eles fazem, apenas como a consequência do desejo das famílias burguesas de "adornar" - pecado nefando, pelos vistos - as suas mulheres com o estudo da música: não podemos esquecer que o conservatório formava principalmente profissionais e que foram numerosas as mulheres que, sendo-lhes vedadas outras vias de desenvolvimento laboral, conseguiram alguma independência económica pela via da docência no domínio da música.

Isto leva-me ao segundo assunto, que se liga com um preconceito de classe: pelos vistos, só a "elite" tem tido tradicionalmente acesso ao ensino oficial da música em Portugal. Será que a "elite" que comprava cada temporada os vestidos e o enxoval em Paris e podia pagar colégios e tutores privados inscrevia, mesmo, as suas criancinhas no conservatório? Teria gostado de ter percebido melhor qual é a elite em que estavam a pensar quando redigiram o dito relatório: talvez fosse naquela que, em tempos remotos, acreditou no Estado.

Soa como música

Quando se atinge uma certa idade, procuram-se outras coisas... no google. Pelo caminho, chega-se também a blogs como este. O que lá está escrito soa como música. Ouçam só:
Jovencísimo color rojo cereza con ribete violáceo, de capa media. En nariz presenta aromas de fruta roja fresquísima (cerezas, grosellas), agua de rosas, violetas, tierra húmeda y algunas notas lácteas. En boca la primera sensación que destaca es también el frescor. Tiene una magnífica expresión frutal, es vivo, grácil, equilibrado, con una estructura tánica tremenda.

Mmmmh.

6/15/2007

Les Émanglons: Moeurs et coutumes

Sans motifs apparents, tout à coup un Émanglon se met à pleurer, soit qu'il voie trembler une feuille, une chose légère ou tomber une poussière, ou une feuille en sa mémoire tomber, frôlant d'autres souvenirs divers, lointains, soit encore que son destin d'homme, en lui apparaissant, le fasse souffrir.

Personne ne demande d'explications. L'on comprend et par sympathie on se détourne de lui pour qu'il soit à son aise.

Mais, saisis souvent par une sorte de décristallisation collective, des groupes d'Émanglons, si la chose se passe au café, se mettent à pleurer silencieusement, les larmes brouillent les regards, la salle et les tables disparaissent à leur vue. Les conversations restent suspendues, sans personne pour les mener à terme. Une espèce de dégel interieur, accompagné de frissons, les occupe tous. Mais avec paix. Car ce qu'ils sentent est un effritement général du monde sans limites, et non de leur simple personne ou de leur passé, et contre quoi rien, rien ne se peut faire.

On entre, il est bon qu'on entre ainsi parfois dans le Grand Courant, le Courant vaste et désolant.

Tels sont les Émanglons, sans antennes, mais au fond mouvant.

Puis, la chose passée, ils reprennent, quoique mollement, leurs conversations, et sans jamais une allusion à l'envahissement subi.

*

La musique y est discrète. Les musiciens davantage. Ils ne se laissent pas voir dans le moment qu'ils en font.

Un jour, l'un d'eux, qui jouait dans le salon, s'imaginant que je l'observais, manqua de s'éttouffer de honte; or je ne l'avais même pas entendu tant il jouait doucement.

Leur musique en sons mourents semble toujours venir à travers un matelas. C'est ce qu'ils aiment: des souffles ténus, partis on ne sait d'où, à chaque instant effacés, des mélodies tremblantes et incertaines, mais qui s'achèvent en grandes surfaces harmoniques, larges nappes soudain déployées.

Ils aiment davantage encore l'impression que la musique se déplace (comme si les musiciens contournaient une montagne, ou suivaient une ruelle sinueuse), se déplace et vient à eux comme au hasard des échos et des vents.

Henri Michaux, Voyage en Grande Garabagne (1936)

6/14/2007

Lang Lang: o último post



A conversa foi breve: ou, ao menos, eu fiquei com vontade de falar mais um bocado com ele. Deu a imagem de alguém calmo, inteligente, sensível e observador e que, para além de uma pontinha de inocência, tem imensa curiosidade pelo que o rodeia. Tem a voz agradável e hoje faz 25 anos.

Amanhã, começa uma breve digressão por diversas cidades alemãs acompanhado pela Orquestra Gulbenkian e Lawrence Foster.

6/12/2007

Shakira y Beyoncé

Sí, han leído bien: Shakira y Beyoncé. Y no, no van a participar en ninguna producción del Palau de les Arts. Es sólo que hoy, en uno de los cafés del campus, he visto su último vídeo, en el que cantan a dúo una canción titulada "Beautiful Liar". Admito que, si no fuera porque Shakira me cae bien, ni siquiera lo comentaría. Como ven, siempre necesito algún tipo de justificación emocional para interesarme por las cosas.

Decía yo que Shakira me cae simpática. Creo que hubiera fingido con facilidad algún género de solidaridad si a algún novio mío le hubiera ocurrido lo que a Alejando Sanz en el vídeo de "La Tortura". Me acuerdo de un verano durante el cual, en todos los taxis que cogí, tuve el raro placer repetitivo de escuchar aquello de "Underneath Your Clothes". Y tuvo cierta gracia ver el verano pasado a mi hija imitando muy seria las coreografías de "Hips don't Lie". Mezcla pop y referencias a la música latinoamericana, así como a Colombia y a la cultura libanesa, de la que forma parte por sus ascendentes familiares. Todo bien. Es un multiculturalismo ligero y despreocupado que no hace demasiado daño.

Pero hoy, el toque "orientalista chic" del vídeo me ha molestado. No por la presencia de Beyoncé, una especie de Barbie a la que nunca había prestado ninguna atención, ni tampoco porque la canción sea mala, ni siquiera por una cuestión de militancia feminista, sino porque, figúrense, me he acordado de Iraq y de lo que en esos momentos se estaba viviendo en Palestina y, de repente, lo que se veía en la pantalla me ha parecido de una frivolidad siniestra y monstruosa.

El mérito no es mío: se es más sensible a esas cosas cuando se ha leído a Edward Said, claro.

6/11/2007

Memento

Entre texto de escravatura e texto de escravatura, fui dar um pulinho ao Bandeira ao Vento, que é muito melhor do que qualquer bola anti-estresse.  Graças a ele, deparei-me con esta maravilha. Com uma breve sessão de leitura aleatória, acabo de matar algumas saudades da Arcádia, do tempo em que brincávamos aos tradutores e as noites pareciam não ter fim. Volto para a escravatura.

Fuga



Tenho de fazer a crítica à reedição das Variações Goldberg de 1955, lançada este ano pela etiqueta Membran. A minha primeira reacção foi fugir, claro, empurrada pelo próprio Gould para os braços de Baudelaire. E apareceu isto no google:
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.

Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

Que levou depois a isto, para acordar de vez:

Ma petite folle bien-aimée me donnait à dîner, et par la fenêtre ouverte de la salle a manger, je contemplais les mouvantes architectures que Dieu fait avec les vapeurs, les merveilleuses constructions de l'impalpable.

Et je me disais, à travers ma contemplation: "- Toutes ces fantasmagories sont presque aussi belles que les yeux de ma belle bien-aimée, la petite folle monstrueuse aux yeux verts."

Et tout à coup je reçus un violent coup de poing dans le dos, et j'entendis une voix rauque et charmante, une voix hystérique et comme enrouée par l'eau-de-vie, la voix de ma chère petite bien-aimée, qui disait: "- Allez-vous bientôt manger votre soupe, sacré bougre de marchand de nuages?"

6/08/2007

Quem não tem mesura

"Aprobarlo todo suele ser ignorancia; reprobarlo todo, malicia." Esta é uma das citações mais conhecidas de Baltasar Gracián, da qual me tenho lembrado nestes dias lendo os comentáros blogosféricos ao Macbeth do São Carlos.

Por meu turno, ando entretida a acabar a minha crítica para Mundo Clásico. Posso no entanto adiantar, coincidindo com alguns comentários, que a Theodossiou não é a Verrett, que a Elena Barbalich não é o Strehler e que o Pirolli também não é Abbado, mas não nos enganemos: nenhúm de nós é Heinrich Heine, Harold C. Schönberg, Fedele d'Amico, nem tampouco Manuel de Lima.

6/07/2007

Lang Lang, mais uma vez

Isto tem andado um bocadinho abandonado, mais do que por causa da Primavera, que también, devido à proximidade do Verão: chegou o fim do ano lectivo, há artigos para acabar, tenho de preparar os exames, essas coisas.

Temo que o blog vai ficar neste estado, inerte e pré-férias, durante as próximas semanas.

No entanto, no meio da burocracia académica, e no seguimento das nossas conversas bolgosféricas a propósito do Lang Lang, vai acontecer uma coisa com piada: na próxima segunda vou ter a oportunidade de falar com ele.

Depois digo alguma coisa.

6/02/2007

Retratos del poder

No deja de tener una leve punta de ironía que las dos primeras óperas montadas en São Carlos después del cese de Paolo Pinamonti – y por él programadas antes de su salida – hayan sido un Rossini cuyo título podría ser parafraseado con otro – El italiano en Portugal , claro – y una segunda ópera también “política”, en este caso de Verdi: el terrible Macbeth.

Si en la primera lo que vemos en escena es el poder ejercido por el bufo Mustafá hábilmente manipulado y contornado por la italiana mediante su inteligencia y su belleza, en la segunda, asistimos a la carrera de un guerrero transformado en dictador mediante el recurso de la fuerza y de la magia negra. La inteligente, bella y también maléfica Lady Macbeth es una especie de Isabella al revés.

Mustafá es atrabilario, pero también sibarita, además de argelino, así que acaba por caer simpático. Sin embargo, Macbeth representa, no sólo la sed ciega de poder, sino el más absoluto desprecio por la vida: “… que importa?... / È il racconto d’un povero idiota; / Vento e suono che nulla dinota!”. Terrorífico. El aparente final feliz de la ópera no consigue borrar de la memoria los sucesivos baños de sangre en los que se funda su reinado de pesadilla, durante el cual llega a robar a sus compatriotas la patria misma. Nos deja entreviendo en la penumbra los entresijos y los silencios que permiten que los tiranos emerjan.

6/01/2007

Macbeth



Não é Johan Reuter, evidentemente, mas poderia sê-lo.

O seu Macbetto parece-me motivo suficiente - e há mais alguns - para aconselhar nestes dias uma ida ao São Carlos.

5/30/2007

In the air

My idea is that there is music in the air, music all around us, the world is full of it, and you simply take as much as you require.

Edward Elgar

5/29/2007

Mais sobre Lang Lang

Por meu turno, depois de ler este comentário no blog do Carlos, apeteceu-me acrescentar algumas coisitas ao meu penúltimo post.

Fui ao concerto com algum receio: a agressiva estratégia de marketing que tem estado atrás do pianista pelo menos desde os seus 18 anos e, mais específicamente, a desenvolvida pela sua discográfica, a DG, inspirada na pop music e dirigida, também, ao mercado asiático, não vai muito comigo. De facto, é a típica coisa - sou por vezes um bocadinho snob - que faz disparar uma boa parte do meu arsenal de preconceitos.

Aliás, o que conta o Henrique aconteceu, só que, pelos vistos, eu estava, por assim dizer, in a sentimental mood ou, sem procurar explicações, simplesmente não me importei minimamente. A diversão é uma das marcas da cultura do nosso tempo, tal como a mistura de nobreza e vulgaridade e a incapacidade de seguir uma ideia (musical) durante mais de, digamos, 5 segundos... Aceitando que seja isto o que Lang Lang faz, poderia ser entendido, até, como uma forma de estar no presente.

O que não sei é se Lang Lang conseguirá libertar-se da pressão da DG, que agora parece andar com duas manias: explorar jovens talentos (ouça-se como exemplo o acontecido com Elina Garança, no seu CD de lançamento na etiqueta) e remexer na arca à procura de "figurões" para reeditar (ultimamente, tem sido este o caso, com CDs de Horowitz, Kissin ou Foldes, entre outros). Ou seja, não tenho, obviamente, a certeza de que Lang Lang vá encontrar uma "voz" pessoal, duradoira no tempo e que não precise de se impor de forma tão insistente. O pianista faz, no próximo 14 de Junho, 25 anos...

Também o mencionado Horowitz foi acusado, sobretudo no início da sua carreira, de maneirista, efectista e piroso. Dizem que ele dizia: "There are three kinds of pianists: Jewish pianists, homosexual pianists, and bad pianists". O tempo dirá qual é a categoria a que Lang Lang pertence. No caso dele, se calhar vale a pena esperar.

Isto ficou demasiado longo e, no fundo, não percebo muito bem a razão.

Por acaso, tenho o último CD do Lang Lang à minha frente. Vou escutá-lo nestes dias. Logo - se entretanto não ficar entretida com outro assunto, que é o mais certo - digo alguma coisa.

Diario de una profesora

Uno de mis mejores alumnos, que tiene últimamente bastante abandonado su blog (espero encontrarme entre los culpables de ello), ha sido también el autor de algunas de los mensajes más divertidos y clarividentes que he leído este curso.

En el tema sobre música y tecnología, por ejemplo, les propuse como audición Kontakte. Cuando hubo quien confesó en el foro de la asignatura de Historia de la Música del siglo XX que no había conseguido escuchar la pieza hasta el final, él respondió que le parecía incomprensible: al final, todo es una cuestión de escala. 35 minutos. Es lo que dura Kontakte, o sea, lo mismo que una misa. Todos hemos conseguido oír alguna entera en nuestra vida. Incluso, nos recordaba, hay personas que han llegado a resistir discursos enteros de Fidel Castro.

(Me acordé de él escuchando hace dias una octava de Bruckner que me hizo desear estar en La Habana. Bruckner es mi Brahms particular.)

En el programa, después de los europeos, llegan los americanos, con un especial énfasis en la figura de John Cage. En el tema correspondiente, se refiere que las risas de la audiencia de un happening también forman parte del espectáculo y del resultado sonoro del mismo. Otro de mis alumnos no acabó de entenderlo bien, así que, como una imagen vale por mil palabras, se lo expliqué con esto:



(Que va también para Paulo.)

Manuel, ése es su nombre, comentó que nunca se podría imaginar a Pierre Boulez o, incluso, a Stockhausen en una circunstancia parecida, porque en la sociedad europea los roles de cada uno están preestablecidos, hasta el punto de que algunos los pretenden heredar.

Después de mostrar el vídeo, he convertido a unos cuantos a la causa cageana, de la que, francamente, nunca me he considerado particularmente devota. No obstante, la mezcla de inocencia e ironía, la genialidad, me apetece escribir, que, en esas imágenes, se atisban en el rostro de John Cage no pueden dejar a nadie indiferente.

5/28/2007

O pianista que veio da China

Não descubro nada novo, eu sei, mas eles são mesmo diferentes. Este ano, tive em Salamanca uma aluna da Coreia. O tema do curso era o tratamento da música erudita na imprensa escrita. Ela contou-nos o que acontecia nos jornais do seu país. Começou assim: para vocês, ocidentais, a linguagem é comunicação, para nós, é poesia. Adivinharam, tenho a certeza, as dúvidas que tenho relativas ao meu sucesso pedagógico junto dela.

Mas adiante. Isto vem a propósito do concerto de Lang Lang e da Orquestra Gulbenkian, sob a batuta de Lawrence Foster. Os meus “contertulios” dos concertos, entre os quais se conta o Henrique, não gostaram do estilo do solista que, presumo, não deve poder ser desligado da sua experiência vital e cultural, dividida entre a China e os Estados Unidos. Um deles chegou a dizer que, até ouvir Lang Lang tocando Beethoven, nunca tinha imaginado que a distância entre nobreza e vulgaridade fosse tão curta. Era uma crítica negativa, mas, bem pensado, também poderia ser entendido como um elogio.

Do que escutei, apenas retive, e basta-me, o que foi acontecendo durante o Largo do primeiro de Beethoven. Especialmente, Lang Lang e Esther Georgie dialogando e envolvendo-se com a perfeição que só os verdadeiros músicos e algumas noites raras de Primavera propiciam. Afinal, parece que aprendi alguma coisa da minha aluna coreana.

5/25/2007

Para este fin de semana




Ella cantando "Dream a Little Dream of Me" en la televisión japonesa (1964).

5/24/2007

Música y escena

Encontrar un lenguaje escénico personal es una tarea tan complicada como encontrar un lenguaje musical propio, y esto es algo de lo que muchos compositores no son conscientes. Voy a provocar un poco: en el noventa por ciento de las producciones de teatro musical contemporáneas a las que asisto, no encuentro una relación de necesidad entre la música y la escena, la mayoría de los compositores hacen su música y la "pegan" a un concepto escénico que les viene dado desde fuera. Esto no me vale en ningún caso. El teatro musical es un todo, en el que la música debe ser imprescindible para contar una historia, no un añadido. Pero entre los planteamientos serios, en el momento actual hay miles de opciones diversas: en un extremo estarían los compositores que, aún trabajando con textos, abstraen el elemento teatral, como puede ser el caso de Lachenmann. En el otro extremo estarían compositores como Georges Aperghis, que parten de la esencia misma del teatro y hacen teatro con medios musicales, con los instrumentos, con las distintas posibilidades de la voz, etc.

Lo afirma Elena Mendoza López, en esta entrevista publicada por Taller Sonoro. A finales de septiembre, la compositora sevillana estrenará en Alemania, donde reside actualmente, una pieza de teatro musical basada en la novela Niebla, de Unamuno, programada en los "Dresdner Tage für zeitgenössische Musik".

Tiago Bartolomeu Costa dixit

Isto  deve ser um bocadinho ilegal, mas, com a vénia e enquanto ninguém se queixar, aqui fica o artigo que Tiago Bartolomeu Costa, do blog O Melhor Anjo, assina hoje no Público. Intitula-se "Um engodo chamado Opart". A leitura pode ser complementada com a do publicado ao longo destes meses no Ideias Soltas.
A lei de 27 de Abril, que define o Opart, o organismo que oficializa a junção da Companhia Nacional de Bailado (CNB) com o Teatro Nacional São Carlos (TNSC) - disponível em http://www.dre.pt/pdf1sdip/2007/04/08200/27792786.PDF -, é de tal forma desfasada do seu tempo que só um Estado como o nosso, ausente de memória e consciência pública, o pode permitir. Esta caricatura do que se entende por cultura sustenta-se numa argumentação pífia que acusa a pequenez e o fechamento a uma realidade em tudo contrária às recentes directivas europeias, tão depressa aclamadas pelo Ministério da Cultura (MC). O retrocesso cultural é óbvio e deveria envergonhar todos aqueles que recentemente se bateram pela honra de Paolo Pinamonti, ex-director do TNSC.

Mais do que oposição a uma estratégia política, devia ser a um modelo enviesado que se provou falhado em muitos países e em Portugal na década de 80. O MC justifica-se com um passado honroso, do século 19, com "temporadas regulares de ópera e de bailado", provocando grosseiros saltos históricos que ignoram todo o trabalho feito nos últimos 50 anos, pelo Ballet Gulbenkian ou a CNB, igual a zero para uma tutela cega e obcecada com uma história que lhe sirva. A introdução à lei merece ser lida pelo seu carácter juvenil e exemplo do que regressa: uma cultura "músico-teatral".

Seguimos cantando e rindo agora que chegou o tempo de "criar condições para uma melhor articulação dos recursos humanos e materiais disponíveis, aumentando a eficiência da sua utilização ao serviço de ambos os projectos, mas sem prejuízo das suas respectivas identidades artísticas".

O secretário de Estado da Cultura (SEC), Mário Vieira de Carvalho (PÚBLICO, 16/05), garante que vai poupar 1,3 milhões de euros no orçamento. Teria sido interessante explicar como, se só na CNB o que há não chega para o cenário da próxima peça e muito menos para o segundo semestre de programação do Teatro Camões.

Ou esclarecer o que, na lei, entende por receitas vindas do mecenato (artigo 21, alínea 1b), uma vez que, neste momento, Millenium BCP e EDP passam a concorrer para a mesma supraestrutura com um só orçamento, que no caso da CNB foi a única forma de se poder trabalhar com algum ritmo. Irá o MC fazer o mesmo que no Museu de Arte Antiga - verbas angariadas pela sua directora serviram para suprir faltas noutros museus -, gerindo os apoios dos mecenas a seu bel-prazer? Terá informado os administradores das empresas? Quem vai negociar esses apoios? O conselho de administração do Opart vai vender o mesmo produto duas vezes?

Apesar de a lei prever que as duas casas gozarão de "todos os necessários poderes de superintendência na produção, programação, comunicação e projectos educativos", justificados como "garante da coerência e da excelência da actividade artística e da imagem que dela se projecta nacional e internacionalmente", a tutela não se coíbe de considerar que está finalmente na altura de repor a ordem nesse grande equívoco que foi a separação da CNB do TNSC, em 1998. Razões: o subaproveitamento do TNSC e do Teatro Camões, a "expectativa de aumento potencial de públicos que não tem sido explorada", ou o grande investimento que precisa ser traduzido "na missão de serviço público" e "ser proporcional ao investimento que o Estado faz".

Mas os seus responsáveis directos, os directores artísticos - e o da CNB está por nomear - não terão direito a voto (artigo 10, alínea 2), sendo a estratégia, eminentemente financeiro-cultural, assinada pelo conselho de administração nomeado pelo MC e as Finanças, onde pontuam gestores sem reconhecida experiência na gestão cultural?

Nada disto parece preocupar a comunidade artística e intelectual, jornalística e política, certamente crentes de que esta equipa ministerial vai passar e outra, mais acessível, desfará o engodo. Como se fosse assim tão simples estar sempre a começar de novo. Como se não fossem óbvias as estratégias de acautelamento futuro do secretário de Estado da Cultura, verdadeiro timoneiro deste imenso barco onde nos afunda.

5/23/2007

Fonógrafo

Vai declamando um cómico defunto.
Uma plateia ri, perdidamente,
Do bom jarreta... E há um odor no ambiente
A cripta e a pó – do anacrónico assunto.

Mudo o registo, eis uma barcarola:
Lírios, lírios, águas do rio, a lua...
Ante o Seu corpo o sonho meu flutua
Sobre um paul – extática corola.

Muda outra vez: gorjeios, estribilhos
Dum clarim de oiro – o cheiro de junquilhos,
Vívido e agro! – tocando a alvorada...

Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas
Quebrou-se agora orvalhada e velada.
Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas.

Camilo Pessanha, Clepsidra (1920)

(Casi) sin palabras




No me ha gustado sólo a mí y por razones parecidas. Yo hubiera destacado también otros cortes, por ejemplo el sexto.

En Lisboa (27 de mayo) y Madrid (1 de junio), Javier Perianes va a tocar la parte solista del concierto en sol, de Ravel, juntamente con Daniel Harding y la Orquesta Sinfónica de Londres.

5/22/2007

La ópera ha muerto, viva la ópera

Otra de las cosas que se me han quedado en el tintero estos días es la entrevista que le hice a Hans Zender con el pretexto de su última visita a Madrid. Dirigió, dentro de la programación de Musicadhoy, su "interpretación compuesta” de Winterreise.

Es asombrosa la variedad de referencias culturales y sonoras que se manifiesta en su obra y también en su conversación. La personalidad artística de Zender, maestro y compositor, no es, desde luego, banal y tampoco se adapta bien a los límites de lo que con política corrección nos parece propio del dominio de la música “contemporánea”. Es lo mínimo que se me ocurre comentar a propósito de alguien que ha grabado, con éxito, la integral de las sinfonías de Schubert o que piensa que Bernd Alois Zimmermann es el compositor alemán más importante de la segunda mitad del siglo XX. ¿La razón? La aplicación del concepto de pluralismo en sus obras.

Había leído que su Parsifal, en 1975, era un hito en su carrera, así que le pregunté sobre el asunto. Me respondió que de lo que mejor se acordaba era de la magnífica acústica de Bayreuth. Por lo demás, según él, dirigir ópera es aburrido, entre otras cosas por el escaso placer que le da trabajar con directores de escena que poco o nada saben de música. Acusa por ello de diletantismo a los más importantes teatros de ópera. En toda su experiencia como director de ópera, recuerda sólo cinco ocasiones en las que consiguió entenderse a la perfección con los responsables por la puesta en escena. Una de ellas fue la Elektra que hizo en los años 80 en colaboración con Nuria Espert.

En un momento dado de la entrevista, que se publicará el mes que viene en Audio Clásica, dijo:
La ópera no es el centro de mi experiencia como compositor. Pienso que tampoco lo es en la historia de la música del siglo XX, entendida como una exploración de los límites de la composición. La forma ópera, en el sentido tradicional, está muerta desde hace mucho tiempo. No obstante, sí me parece que es muy interesante combinar acontecimientos acústicos y visuales, lenguaje y canto, acción e imágenes, para crear nuevas formas de teatro musical que, en mi opinión, están directamente relacionadas con nuevas formas de cultura.
Probablemente, para hablar sobre El viaje a Simorgh, de su discípulo José María Sánchez Verdú, deberíamos empezar por aquí.

Inês de Castro, según Carlos Marecos

Escuché el otro día en Alcobaça, en la inauguración de la 15ª edición del Festival de Música de la ciudad, el estreno de una de las últimas obras de Carlos Marecos: Inês, siete miniaturas sobre A Castro ou Tragédia muy sentida e Elegante de Dona Inês de Castro (1587), de António Ferreira, que es considerada la primera tragedia clásica portuguesa.

La pieza de Marecos, que es uno de los compositores portugueses más interesantes de la actualidad, es un ciclo vocal para soprano y orquesta a partir de fragmentos de la mencionada tragedia original. Los textos seleccionados son bellísimos y van desvelando, de forma sutil y en primera persona, la conocida historia de la infeliz dama.

El recurso a la literatura clásica, portuguesa en este caso, me hizo pensar en la ópera de Sánchez Verdú, así como el requinte tímbrico, común a ambos compositores, y la habilidad para transformar la orquesta en una especie de amplificación psicológica del texto. Después, Carlos Marecos me comentó que, en el futuro, le gustaría tener la oportunidad de poner esta obra en escena. Seguramente tiene razón, aunque a mí me pareció que la fuerza de lo que él ha escrito y la expresividad de la solista bastan para transmitir todo su dramatismo. No obstante, siguiendo con la comparación entre Verdú y Marecos, estas siete miniaturas se organizan conforme una concepción del tiempo más tradicional. En lo que se refiere a la partitura de Marecos, esta concepción se relaciona con la utilización de elementos reconocibles en diversas partes de la obra (por ejemplo, tipos de acordes en la orquesta, intervalos en la voz), casi como reminiscencias de procesos cíclicos. Obviamente, estos comentarios son descriptivos y no dicen nada acerca del valor de la obra.

Inês es un paso más, hermoso y seguro, en el sólido y personal trayecto artístico de Marecos. Propone una actualización de uno de los mitos más conocidos y fructíferos de la cultura portuguesa y lo hace en un lenguaje y con una maestría que le podrían asegurar el éxito en cualquier sala de concierto internacional. Desde el punto de vista estético, para mí es evidente la relación de esta obra con cierto espíritu finisecular, donde se articulan en la dosis adecuada varios "ismos": saudosismo, simbolismo y psicologismo. He estado a punto de colocarle la etiqueta de neo-saudosista (creo que tengo derecho a intentar entrar en el panteón de los críticos que hacen historia aplicando de esta forma un término reductor y con gancho), pero no quiero meterme en líos.

Una parte del éxito de la obra se debió a la excelente interpretación de la soprano Mónica Pais, un nombre a retener, y al cuidadoso empeño con el que Cesário Costa, al frente de la Orquesta del Algarve, la dirigió.

Para saber más sobre Carlos Marecos: se puede consultar la página del Centro de lnformación de la Música Portuguesa, creado y mantenido por la asociación Miso Music, o su página personal.

Y para saber más sobre Mónica Pais, sólo hay que clicar aquí.

A propósito de Inés de Castro hay bastante información en la net. Una posibilidad es empezar leyendo este artículo de Helena Vasconcelos, que resume la fortuna del mito.

5/17/2007

Simorgh en la net

El martes pasado vi y escuché, finalmente, El Viaje a Simorgh, de Sánchez Verdú, que se ha estrenado este mes el Teatro Real. La obra, desde luego, ha generado primero expectativa y, después, discusión. También en la net.

En la página de Beckmesser se pueden encontrar algunas de las críticas que han salido en la prensa escrita y a partir de este artículo, publicado en Periodista Digital, se ha generado una pequeña lista de comentarios de los lectores, inusual teniendo en cuenta el tema. Algunos blogs se han hecho eco de la representación, con comentarios que van de la exégesis al exabrupto, pasando por la opinión de alguien que visitaba el Real por primera vez. En cuanto a los foros sobre ópera, tenemos uno más bien visceral (me gusta/no me gusta) y otro con argumentos bastante más elaborados.

No es poco.

Post demagógico

El número de los que se preocupan después de saber que la universidad española ocupa el lugar número 40 en el Bologna Scorecard 2007 que se discute estos días en Londres debe de ser más o menos coincidente con el de los melómanos que se interesan por la - por así decirlo a falta de expresión inmediata más contundente - ópera contemporánea.

Detrás de España, y hasta llegar al número 48, están Moldavia, Armenia, Macedonia, Azerbayán, Albania, Bosnia, Andorra y Montenegro. Nuestra alegría de vivir congénita nos ayudará a salir también de este trance. No hay problema. Amén.

Tampoco es un problema que en Madrid se juzgue la partitura de Sánchez Verdú teniendo como referencia a Wagner y Verdi. Bien pensado, hasta es divertido.

Llega al despacho el perfume de la hierba recién cortada y de la primavera, que, tal como en otoño, es dulce y denso a la orilla del Ebro.

5/13/2007

Ópera, sofismas e a causa liberal

O João comenta hoje o conteúdo de um artigo de opinião que saiu ontem no DN.

Há dias o mesmo autor publicou um post argumentativamente comparável no blog onde colabora. Acabo de ver que no blog A memória inventada, no post "Pela boca morre o Poisson?", já foi assinalado o principal defeito do seu raciocínio.

O domínio da sofística está ao alcance de muito poucos. Não é sofista quem quer, mas quem pode. Por princípio, os liberais deveriam ter sempre presente esta diferença.

No artigo do DN há várias falácias, mas eu não sou Sócrates e também não julgo útil que quem o assina aprenda.

5/10/2007

(Casi) sin palabras



Irrepetible. Incomparable. Todavía no se puede comprar en la iTunes española, pero sí se puede escuchar en la página de Naxos.

Nota para maniáticos: no se ve en la portada, pero es la legendaria versión de Václav Talich y la Filarmónica Checa grabada en 1954, restaurada para Naxos Historical por Mark Obert-Thorn y que el año pasado salió reeditada en Supraphon.

5/08/2007

Para perderse

Entrad, por ejemplo, por la palabra Printemps.

Relva crescida

A relva cresceu e temos de volta o Henrique, em grande forma. Até que enfim!

Ainda bem que as deficientes condições acústicas nas quais decorreu a Valquíria do Vick não lhe impediram apreciar devidamente os resultados sonoros atingidos pela OSP nas récitas a que teve o desprazer de assistir.

Por meu turno, este Verão vou compará-los cuidadosamente com os de Bayreuth. 

Asseguro-vos que hei-de voltar sobre este escaldante assunto.

Pianistas







Por pura casualidad, me encontré hace unos días con el CD de Evgenia Rubinova. Fue lanzado por la EMI el verano pasado. Lo que hace con las Fantasías op. 116, de Brahms, hay que escucharlo para creerlo.

Con las novedades pianísticas lanzadas por la etiqueta Naxos este mes no me he encontrado por casualidad. De Eldar Nebolsin me habían hablado bien varias personas. Vive en España, donde es bastante admirado. Visitó Lisboa hace poco, donde tocó con éxito, aunque infelizmente yo no pude escucharle, el primero de Tchaikovsky durante los "Dias da Música" organizados por el CCB. Su versión de los preludios de Rachmaninov es, desde luego, sólida, casi diría granítica, pero también me ha parecido monócroma, ausente y desoladora.

Cuando después empecé a escuchar el primer corte del CD de Artur Pizarro, la "Danza de la Amapola", de Joaquín Rodrigo, fue como si un rayo de luz hubiese entrado repentinamente en la sala. De la grabación destacaría su versión de "Canción y danza" (1925) y las "Cinco sonatas de Castilla con toccata a modo de pregón" (1950–51). Todo lo demás es simplemente delicioso, incluso su espectral evocación de una "Noche en el Guadalquivir".

Dos maneras de verlo





Ontem, esqueci-me de dizer que este é un post dedicado ao Zé [Júlio] que gosta da Sarah Vaughan.

5/04/2007

Ser y no ser

La Orchestrutopica nació hace seis años gracias a la iniciativa de cuatro compositores que decidieron reunir un grupo instrumental de “geometría variable” especializado en música del presente. Fue una decisión arriesgada, ya que no contaban con ningún apoyo institucional estable. Actualmente es, juntamente con el Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, el único ensemble exclusivamente dedicado a la nueva música activo en la capital lusa. Desde esta temporada, la OU es - magnífica idea! - una de las orquestas residentes en el Centro Cultural de Belém.

El programa que la OU ha presentado esta semana en el CCB, concebido por el crítico Augusto M. Seabra, incluyó las siguientes obras de Louis Andriessen, Cornelius Cardew, Frederic Rzewski, Heiner Goebbels e Jorge Peixinho: Worker’s Union (1975), Treatise Pag 21 & 22 (1963-1967), Coming Together (1972), A Aurora do Socialismo (1976) e Befreiung (1989). Las tres primeras nunca habían sido escuchadas en Portugal. Fue un concierto extraordinario.

No tengo la posibilidad de dedicarle el tiempo que merecería. Se me acumula el trabajo en el blog (tengo pendientes los conciertos de Sokolov en la Gulbenkian y de Pizarro en los Dias da Música) y, sobre todo, fuera de él. Me conformo por ahora con esta nota, porque no quería dejar pasar más días sin señalarlo.

Quien esté en Lisboa el próximo jueves, podrá escuchar lo que Augusto M. Seabra y los compositores José Júlio Lopes y António Pinho Vargas (miembros de la dirección de la OU) tienen para decir sobre el mismo. Será en la librería Ler Devagar, en el Bairro Alto, a las 22h. Los demás se tendrán que conformar con los textos publicados en el blog de la OU, donde se pueden leer comentarios a propósito de las obras tocadas.

Sonata a Kreutzer




A tragédia final da Sonata a Kreutzer, a novela de Tolstoi, é provocada pela audição da Sonata op. 47, de Beethoven. Pózdnyshev, a personagem protagonista, sofre a incongruência entre a experiência interna produzida pela sua audição e as circunstâncias marcadas pelos convencionalismos burgueses, “entre damas decotadas”, onde era habitualmente tocada e escutada. A música, diz ele, induz o ouvinte num estado indefinido, desatando uma energia de emoções incontroláveis que não podem ser imediatamente traduzidas na acção.

A rememoração do momento fatal da execução da peça de Beethoven conclui, no texto, com uma desistência. Descrevê-la verbalmente é um esforço penoso:
Ela sentou-se com um ar de falsidade defronte do piano e começaram então os preliminares usuais, os pizzicati no violino e o arranjo das partituras. Lembro como um olhou para o outro e como lançaram outra olhadela para a audiência, que estava a tomar assento. Disseram-se algumas palavras e a música começou. Tocaram a Sonata a Kreutzer, de Beethoven. Conhece o primeiro presto? Conhece-o? Ah!

Tolstoi condena na sua obra a instituição do matrimónio e as miragens do amor físico, defendendo a virtude da castidade.

Beethoven escreveu a partitura desta sonata, que acabou sendo dedicada a Rodolphe Kreutzer, na Primavera de 1803. Consta que o compositor se zangou com o primeiro dedicatário da obra por causa de uma mulher. Pelo menos, isso foi o que contava George Augustus Polgreen Bridgetower, o violinista para o qual foi escrita e que a tocou na estreia. Na sua memória, ficou marcada a forma “casta” como Beethoven interpretava o segundo andamento.

É célebre a introdução do vigoroso Presto que deixou sem palavras ao infeliz conselheiro Pózdnyshev. Essa misteriosa introdução pode fazer lembrar o momento da Criação, a oratória de Haydn, em que se festeja no Jardim do Éden as primeiras horas de felicidade partilhadas por Adão e Eva. Precede o duetto em que ambos declaram seu amor mútuo. Nesse recitativo opõem-se representações musicais do masculino e do feminino: a decisão (triádica e cadencial) de Adão à sedução (harmonicamente ambígua e muito ornamentada, reminiscência do Caos e inquietante antecipação da Queda) de Eva. Beethoven inverte a ordem.

Quanto ao terceiro andamento, esse tem sido descrito com a expressão “diálogo impossível”.

Já no século XX, Leos Janáček escreveu o seu Trio com piano “Sonata Kreutzer” (posteriormente transformado em quarteto) duplamente inspirado por Beethoven e por Tolstoi, num dos períodos mais intensos e prolíficos da sua vida. Publicamente celebrado como compositor, tinha-se apaixonado poucos anos antes por Kamilla Stosslova, a musa que, entre outras obras, inspirou a partitura da ópera Katya Kabanová. Os dois quartetos de Janáček, o mencionado “Sonata Kreutzer” e aquele que leva o sobrenome de “Cartas Íntimas”, ambos da década de 20, tiveram também como dedicatária ideal a Kamilla Stosslova.

A foto foi tirada da página do Museu e Arquivo Janáček.

A Sonata "A Kreutzer", de Beethoven, será uma das peças que Hilary Hahn tocará em Valencia e em Lisboa, respectivamente nos dias 10 e 19 de Maio. O programa inicia-se precisamente com uma obra de Janáček, concluída na época em que estava a escrever Katya Kabanová: a Sonata para violino e piano.

5/02/2007

Prodigio difundido a escala planetaria

Esto es, desde luego, admirable. Se puede completar con la lectura de este artículo, en el que se cuenta la vida del joven músico, que entonces tenía 12 años. Ahora, con el reciente lanzamiento de su quinta (una casualidad, claro) sinfonía grabada por la Orquesta Sinfónica de Londres y con sendos contratos firmados con la empresa IMG Artists y con la Sony, Jay Greenberg se ha convertido necesariamente en un prodigio difundido a escala planetaria.

Lo que se escucha en la página no me ha interesado demasiado desde el punto de vista musical. Puede que sea porque esta semana, en Historia de la Música del siglo XX, estamos con el tema dedicado a la música electroacústica. Se explica, por lo tanto, por una cuestión de perspectiva histórica.

Espero, sobre todo, que el chico conserve el sentido del humor. Me parece que le va a hacer falta. Es que, por mi parte, no he podido evitar una sonrisa al leer las siguientes afirmaciones del responsable de la etiqueta Sony BMG Masterworks, donde la OSL ha grabado la tal quinta sinfonía:

"Jay and his music represent the future, and I believe his work symbolizes the renewed confidence we at Sony BMG Masterworks have in the future of classical music,” Hetherwick said, in announcing the signing. “Obviously, what caught our attention was the fact of his age and accomplishment. Beyond that, the passion, the authority and the confident spirit in Jay’s music speak impressively for themselves. I think that a broad, young audience is about to make this remarkable discovery."

5/01/2007

JDF en Valencia

Juan Diego Flórez se presenta mañana en el Palau de les Arts. Hoy, tenemos entrevista promocional en El País (sólo para abonados). Nos enteramos de que, ahora que se ha casado, es su mujer la que cocina. Pues muy bien.

4/30/2007

O compositor na cidade

Dia 2 de Maio, no CCB, pelas 21h. Concerto da ORCHESTRUTOPICA, que apresenta um programa concebido por Augusto M. Seabra.

Merece o chavão: a não perder!

Está tudo aqui, no blog da OU.

4/26/2007

Isto sim importa

1. Já está disponível o regulamento para 2007 do Prémio Jovens Músicos. Este ano inclui, pela primeira vez, uma categoria dedicada à voz e recupera outras que tinham sido um pouco preteridas (por exemplo, percussão). Pode ser lido aqui.

2. Amanhã: o grupo vocal Mediaevox Ensemble apresenta-se em Mafra pelas 19h. Será transmitido em directo pela Antena 2. Ou seja, pode ser ouvido em qualquer cantinho do mundo.

3. Também amanhã pelas 19h: a Concerto European Ensemble Academy apresenta-se Fundação Calouste Gulbenkian Grande Auditório. Do programa, consta uma obra em estreia do meu caro Luís Pena.

4. Na quinta-feira, dia 3 de Maio, às 18h30, na Galeria 1 da Culturgest, irá ter lugar uma conversa com o artista André Guedes, vencedor do Prémio União Latina. Não tem a ver com música, mas acontece que tem uma das cabeças mais imaginativas e livres cuja obra tenho tido o prazer de desfrutar. Tinha-lhe perdido a pista, mas não me surprendeu que ganhasse o prémio. Parabéns.

5. Acabo de saber que a Chicago Symphony Orchestra vai incluir na programação da sua próxima temporada a peça Short Cuts C, de Luís Tinoco. Mais parabéns!

6. Ainda, Sérgio Azevedo estreia este fim de semana a Abertura Giocosa. Será tocada pela Orquestra do Algarve sob a batuta de Osvaldo Ferreira. E no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas, serão escutadas as suas Cantigas de Bichos, na orquestração de Carlos Marecos, durante os dois primeiros fins de semana de Maio.

Si tus ojos divinos

Si tus ojos divinos
los verdes campos miran,
donde sueltos respiran
arroyos cristalinos,
que en la prisión encierra
de altivas peñas la importuna sierra.

¿Qué hará, Belilla hermosa,
el agua de este río
que de un valle sombrío
en los brazos reposa,
y de ellos a buscarte,
confusa al Tajo por tu ausencia parte?

No te hallará en los prados,
que matizar solías
en los alegres días
de flores coronados,
que a su fresca ribera
dieron tus pies segunda primavera.

Abrasados de celos
llorando están agora
tu soledad, señora,
las aves y los cielos,
y la florida vega
que entre olmos altos Manzanares riega.

El poema es de la autoría de Don Francisco de Borja y Aragón (1577-1658), Príncipe de Esquilache, el noble que amaba más la poesía que la política, y que, en consecuencia de ello, fue, como se diría hoy en día, una figura controvertida de su época. Está incluido en el "cancionero del Príncipe de Esquilache", grabado hace dos años bajo los auspicios de la Pontificia Universidad Católica de Chile. El mentor musicológico del proyecto fue mi colega Alejandro Vera, que es allí profesor y a quien encontré la semana pasada durante el congreso que organizamos en la Universidad de La Rioja, "En torno a Francisco Javier García Fajer".

El CD se titula Pajarillo que al alba, cita de uno de los poemas de Esquilache, y me da la impresión de que debe de ser un poco difícil de obtener por las vías habituales. Tiene valor histórico y también artístico. Sólo tiene el pequeño problema - creo que comprensible dado su origen académico - de que, desde el punto de vista técnico, no puede competir con las joyas sonoras a las que las etiquetas especializadas en música antigua (Alpha, por ejemplo) nos tienen habituados.

El poema fue puesto en música por Juan Blas de Castro, uno de los músicos recogidos en el célebre Cancionero de la Sablonara, y fue editada por Luis Robledo, quien es también autor de un estudio sobre el autor.

Ahora que ya no soy wagneriana, ha sido un placer reencontrarme a través de este CD con "nuestro" siglo XVII.

Eu também não volto a falar dos Dias da Música

Não pensava voltar a escrever sobre os Dias da Música porque, francamente, é um assunto que me aborrece e não me diz respeito. Porém, depois de ter lido, na última página do Público de terça-feira, um elogio a António Mega Ferreira apesar da derrapagem orçamental que apresentou o seu festival, para maior escárnio, editado juntamente com outro texto onde se acha o máximo que Nicolas Sarkozy tenha louvado a reforma da função pública liderada por José Sócrates em Portugal, não consegui resistir. Uma não é de pedra.

Entretanto, ontem achei piada a esta notícia do Diário de Notícias, publicada em 2006, onde se diz que o orçamento previsto para a Festa da Música nesse ano tinha sido de um milhão de euros, mas que, nas palavras de Mega Ferreira, “teve de haver reajustamentos de acordo com a nossa disponibilidade financeira, que é de 850 mil euros”.

Afinal, a Festa da Música de 2006 custou 850 mil euros, 1 milhão ou 1 milhão e 200 mil?

Pelos vistos, os Dias da Música custaram 600 mil. Isto é a metade de 1 milhão e 200 euros, mas é mais de dois terços de 850 mil. O Fliscorno fez algumas contas. O Henrique também, assinalando aliás que a derrapagem foi realmente do 50% se considerarmos que o orçamento inicialmente anunciado era de 400 mil euros… Em termos relativos, o preço dos Dias da Música disparar-se-ia se considerarmos o número de instrumentistas envolvidos em ambas as iniciativas (eis um resumo do programa da Festa em 2006, com um destaque para a particupação portuguesa) e tomarmos como critério o que efectivamente se pagou por cada concerto. Isto aconteceria inclusivamente se aceitarmos o orçamento do milhão e 200 mil euros.

Tal como o orçamento, também a questão do suposto "novo conceito" dos Dias da Música deveria ser tema de tertúlia blogosférica. Já disse que o assunto não me diz respeito: poderão comprovar que, na realidade, este post foi motivado por um certo desprendimento de matriz kantiana. Mega Ferreira disse na conferência de imprensa que todos nós tínhamos andado a confundir formato e conceito, que o que ele apresentou foi um novo conceito, o conceito próprio dos Dias da Música. É admirável e muito meritório que a equipa do CCB tenha conseguido montar o programa que foi oferecido em tão pouco tempo. Sobre isto não tenho nenhuma dúvida. Mas, por favor, não me digam que houve um "conceito" sobre o qual se fundamentaram as escolhas.

Há um aspecto que me interessa particularmente enquanto musicóloga. A programação da Festa da Música orientava-se por critérios de carácter vagamente historiográfico, pelo que a criação ulterior de discurso estava assegurada. Tinha, portanto, entre outras, uma evidente função pedagógica. Não oferecia apenas o prazer efémero da música ao vivo, mas a possibilidade real de aprender alguma coisa sobre a história da música em sentido lato, assim como sobre a história dos géneros musicais, da interpretação, do percurso dos próprios compositores. Colocava questões e dava perspectivas.

Asseguro-vos, meus caros contertúlios, que ter escutado no mesmo dia, por exemplo, as Variações sobre um tema de Paganini, de Rachmaninov, o Festim da Aranha, de Roussel, prelúdios de Debussy, obras de Chopin e a sonata de Liszt, o terceiro de Prokofiev, Frescobaldi e Bach entremeados por música techno, o terceiro de Beethoven… não leva, intelectualmente, a lado nenhum. As minhas escolhas foram, por força das minhas circunstâncias pessoais, 
pouco ponderadas. Mas, mesmo assim...

Querendo diferenciar os “Dias” (onde não há conceito para além do acaso temporal resultante de terem acontecido durante um fim de semana sessenta concertos nos quais trinta pianistas  tocaram o piano) da “Festa” (acho que a distância é evidente, não é preciso explicar a significação do termo quando associado à música clássica), banalizou-se o evento. Copiou-se a aparência (ou seja, o formato) e desintegrou-se o conceito original, é certo, mas este não chegou a ser verdadeiramente substituído por outro. E se o foi, sou tentada de dizer que foi apenas substituído pelo vazio.

Coisas como esta são as que explicam a decadência dos povos peninsulares.

Corei depois de ter escrito a anterior frase. Ainda bem que não penso voltar sobre este assunto.

4/23/2007

O meu calmo Dia da Música

Musicalmente, houve poucas surpresas nos Dias da Música. Muitos dos pianistas participantes já eram conhecidos em Portugal ou, conforme se podia adivinhar através dos seus curricula, sendo pianistas sólidos, não eram precisamente estrelas. O dito, porém, não deve ser entendido como uma critica negativa. Advirto ainda que só consegui ir ao CCB no domingo. Assisti, infelizmente, a poucos concertos e, portanto, estou a dar eco o que foi publicado na imprensa, que também não foi muito.

Do que escutei, ficam para a memória os dois recitais, excepcionais, que António Rosado e Artur Pizarro deram no segundo dia. Espero poder voltar a escrever sobre ambos num estilo menos telegráfico. Rosado nasceu para tocar Debussy. Interpretou o segundo volume dos prelúdios (fez a integral há alguns anos, também no CCB) com autoridade: alucinantes as cores e subtilmente controlada a flexibilidade rítmica, evidenciando a estrutura, todos os planos e a poesia próprias de cada peça. Brouillards surgiu do silêncio, criando um estado de escuta que permaneceu até aos fogos de artifício com que fecha o volume.

Artur Pizarro é, ao contrário do sempre sóbrio Rosado, um sedutor impenitente. Sempre que escrevo sobre ele acabo usando – ou querendo usar – adjectivos como mágico, surpreendente ou fascinante. Este recital não vai ser excepção. Mas o resto fica para outro post. Tenho de ir embora e também quero tentar escutar antes a gravação que fez da sonata de Liszt, incluída no programa, na década de 90.

Só mais três apontamentos:

1. Gostei muito de escutar Diana Vieira, aluna de Alexei Eremine na Metropolitana. Por ambos: pelo professor e por ela. Segura, sempre musical, Diana tocou muitíssimo bem a parte solista das Variações sobre o tema de Paganini, de Rachmaninov. Espero que consiga prosseguir serenamente o seu caminho e, desculpem o excesso de confiança, que não arranje namorado longe do lugar que escolha para dar seguimento à sua formação.

2. A propósito de Schlimé, de quem falei há dois posts, escutei-o de relance e acabei sem saber muito bem o que pensar. No entanto, continuo a apreciar os seus CDs (por exemplo, a sua versão do concerto em sol de Ravel, com Pletnev como regente) e acho graça à sua imagem de estrela techno-pop à mistura com posse decadente-lisztiana.

3. E, finalmente, é preciso assinalar o estrondoso sucesso de Maria João Pires no concerto de encerramento. Há reconciliações assim.

Duas coisinhas sem importância

Conforme detalha Bernardo Mariano hoje no DN, os Dias da Música costaram a metade do que custou a última edição da Festa da Música. Para o novo conceito o orçamento previsto era de 450 mil euros. O custo final atingiu os 598.613 euros.

Ooops!

Na cobertura jornalística, chocou-me o reduzido espaço dedicado às críticas e aos pianistas e o destaque editorial dado às criancinhas e ao público anónimo que fazia perguntas inocentes aos grandes artistas.

É o efeito Rousseau, que continua a fazer as dele.

4/18/2007

Com Sokolov como desculpa



De joelhos, talvez só perante Richter. 

Está depois o Thibaudet, que, por enquanto, é o "meu" pianista.
Sou também a fã nº 2 do Artur Pizarro e do António Rosado. Tenho 
ainda um fraquinho pelo Kissin e outro pelo Tharaud. E acho o Andsnes lindo de morrer.

Mas, Carlos e Sónia, peço desculpa, isto está escrito sem pensar. Os - e as - restantes pianistas e o recital de Sokolov em Lisboa ficam para outra oportunidade (o Sokolov, para a semana). Nestes dias, vou ter de exercer intensivamente de professora universitária, participando em iniciativas tão sérias como esta.

Só mais duas coisitas.

E já que falamos em pianistas: se alguém for aos Dias da Música, no CCB, e tiver a oportunidade de escutar o Francesco Tristano Schlimé, que, por favor, diga alguma coisa (o mail do blog está lá ao fundo, na coluna da direita). Pelo que tenho ouvido dele em CD, poderia chegar a atingir as categorias de pianista pelo que tenho fraquinho e de lindo (mas não de morrer). Seria preciso confirmá-lo ao vivo.

Como tampouco vou conseguir abrir o salão nos próximos dias, fica para os habitués o seguinte poema de Pere Gimferrer, escrito, salvo erro, em 1974. Vale, aliás, mais do que todos os meus posts juntos.

A noite primaveril do recital lisboeta de Sokolov teria merecido, porém, um outro texto, com locus amoenus, mas nao às avessas, e com cheiro de relva recém cortada.

Noche de abril (según Gimferrer)

La mente en blanco, con claridad celeste
de alto zodíaco encendido: cúpula vacía,
azul y compacta, forma transparente
al abrigo de una forma. Así vuelvo a encontrarme
buscando esta calle. Ni está, ni estaba:
ahora existe, en levitación,
porque la mente la inventa. Asedio adusto,
pleito de lo visible y lo invisible: llama
y consumación. Contornos, inmóvil
piedra que cristaliza. Esta noche,
tormento de los ojos, tormento que una palabra designa,
sin decirlo del todo, como el reflejo
de una perla en tinieblas. Ahora los dedos
arden con la claridad de una palabra. ¿El sol?
El nocturno cuerpo solar, hecho pedazos, rueda
cielo abajo, piel abajo. Ni el tacto sabe
detener la caída. Incendiado
y poderoso. Riegan, de madrugada,
las calles, y un silencio nulo de cláxons,
en los pasajes húmedos, abre un imperio
donde a la piel responde la piel, y el nudo
se hace y deshace. Las teas de Orión
ven los cuerpos enlazados. Astral
escenario de profundos cortinajes
sobre el resplandor sonoro. Dices
sólo una palabra, la palabra del tacto, el sol
que ahora tomo en mis manos, el sol hecho palabra,
tacto de la palabra. Y las estrellas, táctiles,
invioladas, carro que al deslizarse
al fondo de un vidrio vago se refleja
en tu lujo, claridad de espalda y nalgas,
el globo detenido, ígneo: el reverso
oculta el trueno oscuro del monte de Venus. Brillan
dos tinieblas cuando el firmamento
mueve galeras y remos, y ahora escucho
el oleaje, el chapoteo de los pechos y el vientre,
copiados por la noche. La estancia cósmica
es la estancia del cuerpo, y la blancura
no confunde nubes altas y verde de espuma:
todo lo delega, la reenvía todo. Tiemblan,
esperando recibir un nombre, las criaturas
de la oscuridad, el dibujo de las tenazas
de los dos cuerpos, tapiz del cielo, horóscopo
giratorio. ¿Un sentido? Todo, ahora, es doble:
las palabras y los seres y la oscuridad.
Pero, escucha: muy lejos, desde esquinas
y faroles nocturnos, vacíos de murmullos,
negativo ignorado de magnesio,
vengo, mi rostro viene, y ahora este rostro
vuelve a ser el rostro mío, como si con un molde
me rehicieran los ojos, los labios, todo,
en el arduo encuentro de este otro, un trazo
dibujado al carbón, que no conozco, que toma
posesión del hielo, que me funde y me biela.
Es éste el enemigo, el que yo siento,
irrisorio y soberbio, ojo o escorpión,
el nombre del animal, el antiguo dominio.
¿Lo reclama el amor? Cuando dientes y uñas
bordean el azulado coto de la piel,
cuando los miembros se aferran, la certeza
¿viene de un fondo más remoto? Curvados, se despeñan
los amantes, como las formas minerales,
rechazados por la noche que calcina el mundo.