1/29/2006
A propósito de Amadeus
O filme tem gerado conversa blogosférica (aqui, aqui, aqui e, já agora, também aqui). Através do Technocrati, também encontrei mais outro ponto de vista, este.
É pena não poder dar aqui o link para alguns dos artigos que foram publicados nos anos 80 e 90 em revistas de musicologia a propósito do filme de Forman. Mas vou trazer aqui depois alguns dos argumentos que foram expostos, só para vermos as coisas de outra maneira.
Só mais uma coisita sobreo mini-SÓNAR
As apropriações mútuas entre o campo da arte e o novo capitalismo. Também podemos desprezar a coisa como banalizador e imoral desvio (da superior Arte em aras do lucro e da massificação), mas isso seria apenas um subterfúgio para de nos sentirmos confortados, acalentados pela nossa seleccionada discoteca e pelas nossas idas às salas de concerto comme il faut. É uma opção.
1/28/2006
Hoje, no Auditório da Reitoria da UNL
Às 19:30h _ Entrada Livre_ 28. Janeiro 2006
Wolfgang Amadeus Mozart
Duplo concerto para flauta e harpa em Dó Maior, K. 299
João Rafael
Evocatio Aetheris para orquestra
Obra encomendada pelo TNSC (em estreia)
Joseph Haydn
Concerto para violoncelo e orquestra em Dó Maior
Franz Schubert
Sinfonia n.º 4 em Dó Menor, «Trágica», D. 417
violoncelo Teresa Valente Pereira
flauta Diogo Miguel Gonçalves
harpa Carmen Cardeal
direcção musical Giuseppe Ratti
Orquestra Sinfónica Portuguesa
O SÓNAR dos pequeninos
Afinal, a festa ambvisual da Ouvê foi um acontecimento daqueles que melhoram quando contados em conversa ou descritos numa página web. Vividos, nem por isso. Estava frio e o que se encontrava lá dentro não era nada de especial. Contudo, havia muitas dezenas de pessoas à porta, esperando para espreitar o que se estava a passar no átrio da Escola Superior de Dança.
Deixando, porém, de lado o objecto – vídeos e uma dupla escolha de sons para escutar através de headphones e uma produção com alguns problemas difíces de resolver – e esquecendo a sua origem importada, o projecto levanta algumas questões interessantes.
Sobretudo, chamou-me a atenção o propósito de ocupar e “dinamizar”, como se diz agora, um espaço, como também se diz, que ainda não tem dono em Portugal, explícito aliás na web da associação que promoveu o evento. Refiro-me às múltiplas manifestações criativas ligadas às novas tecnologias e ao cruzamento de diversos “media” inseridas na nova “cultura digital”. A música electrónica – nas suas múltiplas variantes – seria apenas um dos seus aspectos.
Não é que em Portugal não existam organizações a dinamizar o dito espaço: pense-se, na zona de Lisboa, na Granular, na Miso Music, que promove o Festival Música Viva, ou na Restart, que se dedica à formação. O que não há é nenhuma organização que o hegemonize, integrando as suas vertentes minoritárias e maioritárias e utilizando a sua capacidade para intervir no domínio do denominado marketing das cidades.
Um bom modelo disto seria o SÓNAR de Barcelona. Tem público, é muito abrangente do ponto de vista artístico e cola a cidade à imagem da vanguarda tecnológica. Pelo menos, o SÓNAR parece que tem uma produção e um efeito publicitário impecáveis (os prédios de habitação que caem como consequência da incompetência nas obras de expansão do metro são apenas verdades que não estragam a boa história - com a vénia da Grande Loja do Queijo Limiano).
1/27/2006
Estamos de aniversario
La otra podría ser escuchar a Clara Haskil tocando sus obras para piano, o al Cuarteto Amadeus o al Cuarteto Alban Berg en sus "grabaciones Mozart", o a Giulini (o a Kleiber) dirigiendo Le Nozze, o la versión de 1953 del Don Giovanni de Furtwängler, o el Così de Böhm y su versión de las últimas sinfonías.
1/25/2006
Vida para além da burocracia
Mas há vida para além das monografias e das burocracias. Por isso, só vou lembrar que começa amanhã a Panorama (mostra do documentário português) e que, na terça, não esqueçam, regressa a Lisboa, ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, Ian Bostridge. Só Schubert. A não perder.
1/23/2006
Temos orquestra
Tive, no entanto, tempo para assistir ontem ao concerto da OML, dedicado à música de Wagner e de Beethoven. Sob a batuta de Michael Zilm, a Orquestra - que tenho escutado ultimamente em vários concertos bons - transfigurou-se. Não correram tão bem os Wesendonck-Lieder, mas a audição do Idílio de Siegfried e da Terceira de Beethoven foram experiências inesquecíveis. O rigor da regência de Zilm é indiscutível e bem conhecido dos melómanos lisboetas, e espero que continuemos a desfrutar dela no futuro. Um dos melhores momentos da presente temporada orquestral foi a sua interpretação, no passado mês de Outubro, à frente da Orquestra Gulbenkian, de La Valse, de Ravel. Estou já com impaciência para presenciar o seu próximo concerto.
Quanto à OML, a coisa é um pouco diferente. A sua imagem ficou bastante prejudicada pelo "affaire" Graça Moura e pelos seus rocambolescos episódios subsequentes. Por isso, pode ser uma surpresa para muitos escutar, passados apenas uns meses, um agrupamento jovem e formado por músicos excelentes a responder com empenho e enorme seriedade ao gesto do maestro. Com Du Xuan e Alexei Tolpygo à frente dos violinos, o naipe corre o risco de se tornar no melhor deste lado do Tejo. Ontem, ouviram-se, com um som cheio, os contrabaixos e os violoncelos. Excelentes, ainda, as trompas. E eu, pela minha parte, continuo a ter um fraquinho pela oboé solista. Estes destaques são, de facto, injustos: o elogio deve ser feito a todo o agrupamento.
Parece, portanto, que temos orquestra (pelo menos, quando dirigida por alguém da craveira de Michael Zilm...). Se acreditarmos nas bondades da concorrência, em Lisboa, apenas teriamos de nos congratular com isso.
Piratas y apáticos
The present results indicate that music was rarely the focus of participants' concerns and was instead something that seemed to be taken rather for granted, a product that was to be consumed during the achievement of other goals.
Teniendo en cuenta el relativo fracaso - a juzgar por mi experiencia - de la campaña del mismo Adrian North en favor del uso de música clásica en los restaurantes, parece que la cosa se quedará en un mero tema de tertulia blogosférica.
No obstante, es curioso que esta noticia coincida con el anuncio de la caída de las ventas del mercado discográfico en 2005 y del aumento de volumen de venta de música por internet, pocos días antes de las manifestaciones anti-p2p en el MIDEM. Ya lo sabíamos: internet es la fuente de (casi) todos los males. Sobre todo de los de las grandes editoras discográficas que no supieron negociar en su momento con Steve Jobs, uno de los fundadores de Apple. Pobriños.
1/15/2006
Fossos
Na sua crónica de hoje (no Público, claro…), Vítor Belanciano assinala uma das incoerências da imposição de quotas de música portuguesa nas rádios. Nascida para impulsionar a sua difusão (e a do português), está pensada por quem parece acreditar «que ainda estamos na época em que a família se reunia à volta da telefonia», ignorando por completo o papel que as novas tecnologias da informação têm actualmente no mercado musical
O que se evidencia ao cruzar a coluna de Vítor Belanciano com a manchete da primeira página do jornal (“Aumenta o fosso entre ricos e pobres em Portugal”) é que essa é uma lei que, primeiramente, vai determinar o que será escutado no futuro pelas pessoas que não têm um acesso fácil a essas tecnologias. Infelizmente, o fosso digital português é o mais fundo da Europa (via Jornalismo e Comunicação e Atrium
Cito o artigo do Público assinado por Carlos Romero: «O número de pessoas a viver [em Portugal] com menos de 350 euros por mês ronda os dois milhões e teima em não descer…». É aproximadamente o preço habitual do iPod de 20 Gb...
1/12/2006
A logica ilógica desta comédia
Augusto M. Seabra serve-se no seu inflamado artigo de hoje no Público da comparação entre o São Carlos e Dona Maria para, mais uma vez, chamar a atenção para os sintomas de “desastre”, na sua expressão, político patentes na actuação do Ministério da Cultura nos últimos dias.
É muito importante o que lembra no texto, sobretudo no que diz respeito à questão da cultura em sociedades democráticas e abertas com as características da portuguesa, embora eu esteja em desacordo com algumas das suas afirmações pontuais, precisamente no trecho em que faz essa comparação. Tendo em conta que o São Carlos e a OSP não são instituições independentes, acho que o esforço por estabelecer uma rede de colaborações e por dar resposta a uma procura diversificada é uma das características que têm marcado a sua actuação na "era Pinamonti". Que podem ser feitas mais coisas e coisas diferentes? Sem dúvida. Mas que o que é feito, em condições nem sempre ideais, faz parte de um programa coerente e, ao mesmo tempo, variado e aberto é indiscutível.
Parece haver, apesar de tudo, alguma lógica – proteccionista e nacionalista – na acção do Ministério comum à música e ao teatro, que se tem evidenciado no projecto de criar, no seio do IA, uma editora de música votada aos compositores portugueses. Como se o papel e o Finale (o programa informático usado habitualmente para a edição de partituras) fossem suficientes para a promoção da “clássica”. Temos assim o Estado, já não a incentivar, mas a substituir a sociedade civil. O mesmo Estado que, por Lei, vai impor "quotas" de música portuguesa às rádios (sobre este assunto, vale apena ler estes comentários, no NetFM).
Deixa, ao mesmo tempo, de haver lógica quando o mesmo Secretário de Estado que diz que o facto dos guionistas serem obrigados a ter apoio de um produtor nas candidaturas a subsídios do Estado limita a criatividade (foi noticiado há meses no Público), repentinamente, esgrime como prova de má gestão o dinheiro exagerado que custou ao erário público cada assistente a um determinado espectáculo do Dona Maria. Santa preocupação. Hoje, no Parlamento, a Ministra tentou fazer manchete: «As receitas do TNDM em 2005 não pagaram os ordenados dos administradores». Pois é. O bilhete da minha filha para ver A Ilha Encantada costou 2,5 euros: acredito que, praticando esses preços, não chegue.
Mundo Clásico, fim de semana
Tristes notícias
Soube tarde do falecimento de Helena Sá e Costa, esta semana em Paris. Foi através de uma breve notícia publicada no Libération, onde se lembrava que, entre os seus discípulos, se encontravam os pianistas Pedro Burmester e Adriano Jordão. Quando colaborei na exposição sobre Viana da Mota, organizada pelo Museu da Música em Lisboa em 1998, ganhei uma ainda maior admiração por ela, que dura até hoje. Um mundo esfuma-se com ela.
Ainda, hoje também foi noticiado o falecimento de Birgit Nilsson. Mild und leise... É impossível não ligar o seu nome imediatamente à sua voz e a essas palavras.
Uma boa notícia, entre tantas más
Desculpem o mau português: se o masculino de maestrina é maestrino, o feminino de maestro será maestra, não?
1/08/2006
O pesadelo
Terrível. Tenho ainda recente a experiência da minha filha de cinco anos com A Ilha Encantada. E faz-me pensar no pesado clima cultural que têm vindo a ser alimentado na Espanha com políticas nacionalístico-sectárias análogas.
1/07/2006
O Porter da Cultura
O nome encontrado tem inequívocas qualidades, mas a vocação do instituto [Instituto das Artes], muito voltado para a internacionalização da cultura portuguesa, e para o intercâmbio artístico, pouco tem a ver com o sector musical (cujo peso no estrangeiro é reduzido e está ligado a círculos muito restritos). Penso que era necessário alguém claramente ligado às artes visuais, área onde se estava a fazer um trabalho importante.
A citação provém do PÚBLICO, da coluna assinada por Eduardo Prado Coelho na passada quarta feira. Refere-se à nomeação de João Vaz de Carvalho como responsável pelo IA.
Como não parte da distinção, nem funcional, nem de princípio, entre artes “visuais” e artes “performativas”, o autor funde e confunde o IA com o extinto IAC (esquecendo o IPAE) e acaba quase por negar que a música tenha alguma pertinência num instituto do Estado que se reclama “das Artes”. Parece que, na opinião de Prado Coelho, a música não é um aspecto da cultura portuguesa susceptível de ser internacionalizado ou de merecer “trabalho importante” no Ministério da Cultura. Pelo que se lê, os critérios únicos para orientar as suas escolhas e a sua política deveriam ser dois: peso e amplitude.
O programa subjacente é afinal o de uma espécie de Relatório Porter da Cultura, cuja essência, no que diz respeito à música, já tem sido aplicada. Quem quiser uma prova, pode, por exemplo, visitar aqui o Centro de Informação da Música Portuguesa, um projecto fundamental que só foi possível no século XXI graças à iniciativa individual e empenhada de Miguel Azguime.