2/04/2006

Miguel Harth-Bedoya

Fixem o nome: Miguel Harth-Bedoya. Dirigiu esta semana a Orquestra Gulbenkian num programa com obras de Lopes-Graça, Rachmaninov e Tchaikovsky.

A acreditar no post do Henrique (relativo ao concerto de quinta), na sexta-feira as coisas correram de forma muito diferente. Os músicos da OG empenhados e entregues ao gesto do maestro, o público cortês e elogioso com Sequeira Costa e mostrando o seu apreço à arte de Harth-Bedoya. Ouvimos algum toque de telemóvel, claro, e também houve quem não conseguisse dominar o seu entusiasmo após o terceiro andamento da “Patética”. Neste ponto, ontem, maestro e orquestra foram compensados com um caloroso aplauso. Mas estas são coisas sem importância.

O que realmente interessa é chamar a atenção para o maestro. Eu gostei particularmente da excelência da sua técnica e do seu gesto atlético e claríssimo. Na “Patética”, mostrou a sua cuidadosa e pessoal leitura da obra. Muito bom no primeiro andamento. Eu prefiro a valsa mais graziosa, mais Belle Époque (Mengelberg, por exemplo?), mas também isso é pouco importante. O terceiro andamento – como se viu – foi brilhante e deixou impressionado ao público. A mim impressionou-me particularmente a maneira como conseguiu transformá-lo, no fim, numa espécie de violento pesadelo. O Finale, esse, foi de antologia. Um fraseado delicadíssimo, impecável e com um uso subtil e expressivo dos acentos. Tudo num só gesto, conseguiu manter e modular a tensão ao longo do andamento, do princípio até ao fim. Quando, por fim, o som se desvaneceu e chegou o silêncio, a sala ficou em suspenso.

A Orquestra Gulbenkian, por seu turno, voltou a mostrar o que já sabíamos: que é um agrupamento excelente. Parabéns a todos os solistas, e especialmente ao primeiro violino.

Nota 1. Admito, porém, a minha suspeita parcialidade: o rapaz é bonito, dirigiu há uns meses uma ópera de Golijov inspirada em Lorca que eu adorava ter visto (comentários aqui, aqui, aqui e aqui) e, ainda por cima, parece buena gente.

Nota 2. E que tal dirigir o investimento em promover a formação de maestros? Há dias, a Orquestra Metropolitana, sob a batuta de Michael Zilm, transfigurou-se. Entretanto, escutei a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida por um maestro medíocre a fazer – acreditem só, como isso é possível! – uma versão chata da quarta de Schubert. Os músicos estavam a tocar como se de um grupo de câmara se tratasse... Sexta, a Orquestra Gulbenkian mostrou – mais uma vez - aquilo que é capaz de fazer quando tem à frente um maestro como deve ser…