Tinha-me prometido não tocar mais no assunto apenas por uma questão pessoal : fico zangada e isso é muito pouco profissional. Mas há pouco, quando liguei a rádio, lá assomou a voz do João Almeida a falar de Nantes. Dvorak, a "valsa triste", como sintonia das transmissões em directo da Folle Journée... Apropriado.
Escutando a semana passada, retrospectivamente, o programa do Luís Caetano - "Um certo olhar" - em que se discutiu o "assunto" (graças aos podcasts, felizmente disponíveis aqui) chamou-me a atenção a dificuldade que os seus tertulianos e ele próprio tiveram para enumerar em termos explícitos - claros e distintos - os motivos do fim da Festa da Música em Lisboa: os cortes orçamentais? a vontade de deixar marca que têm todos os programadores? as limitações derivadas do folhetim Berardo?
Houve um momento em que o Luís colocou a questão do elitismo da classe musical portuguesa. O assunto não foi desenvolvido. Lembrei-me logo das seguintes palavras do secretário de estado, por sua vez ligadas com algumas das que pronunciou na altura a ministra, e publicadas, aquelas, no DN da sexta passada (esta parte da entrevista só saiu em papel): "[a Festa da Música] durava dois dias e mais ninguém falava nela. Criava-se a ilusão de termos uma grande cultura musical e que se criaria um público fantástico. Mas não é assim..."
Pois é. É que, se assim fosse, deveríamos reescrever a história, tarefa chata sem dúvida, e todos os nossos preconceitos elitistas (de uma elite da elite que vai à ópera, à diferença, e continuo a citar o secretário de estado, das "elites criadas após o 25 de Abril [que] ainda não vão à ópera, uma vez que não tiveram uma socialização primária com a família.") lá iriam eles, por água abaixo. Um mundo perfeito, onde se vai à ópera e se escuta música por herança familiar e, sei lá, porque se pertence a uma elite.
Acho que vou ligar para o ministério, para solicitar as referências das pesquisas sociológicas que comprovaram a alegada ausência de influência da Festa da Música. Se calhar, ainda aprendo alguma coisa.