1/16/2007

Uma forma de plágio

O amigo e colega de blogosfera Arauxo comenta neste post os acontecimentos derivados do último artigo dominical do provedor do jornal PÚBLICO. Depois de ter lido o seu artigo, fui ver o blog do dito provedor, porque o assunto me interessa muito. Isto é compreensível, na medida em que passo muito tempo a escrever textos que, inevitavelmente, se baseiam em informação proveniente de fontes muito diversas. Estando de acordo na premissa fundamental (plagiar é uma coisa muito feia, sim senhor), acho, porém, bastante descabidos os desenvolvimentos deste caso, o affaire Barata, resumido, de resto, pelo Arauxo.

Fui buscar mais alguma informação referente à jornalista do San Antonio Express News que tinha sido despedida por não citar a wikipedia. Acontece que a tal jornalista assinava regularmente uma coluna de opinião e que esta era a terceira vez que copiava literalmente e sem citar frases inteiras de fontes alheias. Parece-me que não é justo fazer equivaler uma coluna de opinião a uma coluna de apoio a uma peça jornalística de carácter divulgativo no domínio das ciências da saúde. E este excesso faz-me perguntar, já agora, quem é que nos protege do provedor?

O senso comum faz-me pensar que os factos unanimemente aceites, por um lado, e as ideias e conclusões, por outro, não pertencem à mesma categoria quando estamos a falar de plágio. Este, aliás, pode apresentar muitas formas.

Há tempos, lembro-me de ter achado estranha a menção, numa coluna de apoio a um texto principal relativa à vida e à obra de um compositor, a referência à versão compacta das entradas biográficas do Grove, antigamente disponíveis na net (digo antigamente porque agora não fui capaz de encontrar nenhum exemplo).

Será preciso citar uma fonte para afirmar que Beethoven escreveu nove sinfonias? Ainda, citar, por exemplo, a última edição do Grove, seria compreensível, porque supunha um acrescimo de informação. Mas ser obrigatório citar uma fonte que informa sobre um facto que, por sua vez, pode ser recolhido em múltiplas fontes? É um bocadinho ridículo.

Seja como for, a decisão é de natureza editorial e pode ser tomada, em benefício da transparência, depois de ter sido chamada a atenção para a omissão em causa. O que não se explica é que uma coisa destas se transforme numa espécie de caçada inquisitorial com direito à divulgação pública de mails que, mais uma vez, o senso comum coloca no domínio do privado. O PÚBLICO não é o Estado!

Depois da inanidade do affaire Equador discutido na mesma coluna do provedor (no blog aparece o epílogo, no post "A frase a mais"), parece que este queira deixar claro que conhece perfeitamente a definição do termo plágio.

Obviamente, este último comentário foi publicado "sem a devida confirmação em duas fontes diferentes e independentes entre si"! (fonte: Livro de Estilo do jornal PÚBLICO, onde se diz a propósito do "plágio": "O plágio é terminantemente proibido no PÚBLICO. Todas as informações recolhidas noutros órgãos de comunicação ou fornecidos por agências de notícias — no caso de relevância manifesta — devem ser sempre devidamente atribuídas. Ganha-se em credibilidade e vence-se noutra frente: na imagem de um jornal que dispensa a leitura de qualquer outro.")