3/20/2007

Bem-vindo a Lisboa, Herr Dammann!

Compreendo os comentários do Araúxo. Gostava de partilhar o seu optimismo. Não posso, contudo, deixar de concordar com Augusto M. Seabra – o qual, com outras palavras, tem denunciado a estratégia de introdução de controleiros nas estruturas ministeriais de produção cultural - quando coloca o acontecido com Pinamonti nessa mesma linha de actuação.

Sobretudo, julgo que a ideia do novo teatro de ópera que vai nascer das suas cinzas após esta operação e que, entre outras coisas, vai atrair turistas, inovar “no repertório, na prática de encenação e de representação”, criar escola de canto e acalmar a sede de lírica das criancinhas portuguesas está muito próxima da alucinação. É megalómana e irrealista atendendo ao subfinanciamento histórico da instituição e, já agora, também às condições da própria estrutura e do edifício. Só pode acreditar nela quem não as conhece. Surpreendentemente, ou não, parece estar nesta situação o substituto de Pinamonti, o qual disse, por exemplo, na conferência de imprensa da semana passada que “caso as características técnicas do S. Carlos o permitam, é também seu desejo ter em cena duas produções em simultâneo”.

O que tem acontecido com Pinamonti tem, finalmente, alguma relação com o processo que levou, em 2003, Christoph Dammann para a Ópera de Colónia. A pessoa que tinha sido inicialmente indigitada para o lugar, Barbara Mundel, foi despedida sem explicações. O escândalo teve repercussões nacionais. Numa leitura positiva, o que se passou em Colónia em 2003 poderia indiciar que o novo responsável pelo São Carlos tem alguma habilidade pessoal para lidar com políticos: na altura era apenas um doutorado de 39 anos, sem experiência prévia no domínio da gestão de teatros de ópera. Hoje, os dados de que dispomos são os seguintes: Dammann aguentou-se no lugar apenas quatro anos; não conseguiu incrementar o orçamento destinado pela cidade à ópera; e, pelo que tenho lido e pelas minhas conversas de corredor em Colónia, sai dali sem deixar saudades.