3/16/2007

Mais do mesmo

Encontrei a resposta ao meu anterior post no PÚBLICO de ontem, numa peça onde se dá conta da morna reacçao que tem provocado em Colonia a saída de Dammann. Ou seja, confirma o que eu vi no passado fim de semana, no domínio resgringido da ópera, o que foi feito ali é comparable, quando não melhor, do que tem sido feito em Lisboa.

A diferença, essa, está na orquestra que, apesar de ligada ao teatro, tem conseguido graças ao seu maestro titular (e actualmente responsável artístico por toda a actividade musical da cidade de Colonia), Markus Stenz, apresentar um trabalho que começa a distingui-la no panorama europeu. Posso aliás imaginar que o próximo capítulo deste folhetim hermenêutico será o dedicado à articulação da Orquestra Sinfónica Portuguesa com o Teatro de Sao Carlos e à definição da partilha do espaço cultural e orçamental da capital pela OSP com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, também financiada pelo Ministério da Cultura.

E não, Eduardo Pitta: neste "diz-que-diz" há também argumentos. Fait divers são os dados que publicou no seu blog, com demagogia pseudoestatística. O São Carlos, como estrutura, não se reduz, nem à ópera, nem ao que faz dentro do Teatro. Na era Pinamonti incluiu centenas de colaborações e de co-produções que asseguraram uma actividade quase diária. Nota-se que fala daquilo que não frequenta.

Pinamonti, neste "diz-que-diz", apresenta argumentos que são contundentes, tais como os que são reproduzidos a seguir, retirados da entrevista que concedeu esta semana ao PÚBLICO. À pergunta "O secretário de Estado quer "atrair novos públicos". Que diz?", ele responde:

Se me permite, isso são slogans sem conteúdo. Quando cheguei há seis anos havia 900 assinaturas, hoje há 2200. Só com os assinantes ocupamos mais de metade da sala em todas as récitas. A taxa de ocupação do São Carlos é hoje de 90 por cento, isto para mim é um grande exploit. É claro que dizer que o Estado paga 350 euros
por espectador como o Diário de Notícias faz hoje [ontem] é factual, mas injusto e uma operação de hermenêutica incorrecta, pois compara dados incomparáveis. Como se pode comparar o São Carlos à Ópera de Paris, que tem mais do que uma sala e ao todo 5000 lugares? E onde o lugar mais caro custa 150 euros, quando no São
Carlos são 60? Comparar o São Carlos com as óperas de Barcelona, Roma, Paris, Milão, é uma operação de má-fé. Temos que comparar o São Carlos com teatros comparáveis - o La Fenice, em Veneza, Bolonha, Toulouse. No Alla Scala há bilhetes a 240 euros. É interessante que Mário Vieira de Carvalho compare o São
Carlos com os teatros das grandes elites europeias, e use teatros para ricos como modelo.Alem disso, é demagógico. Quanto é que custa, por português, o Ministério da Cultura? Se continuamos neste caminho, é demagogia atrás de demagogia. O teatro lírico é um serviço público, como o de uma colectividade, como a universidade, é o Estado que tem que assumir os custos maiores, é claro que com uma boa gestão e eficácia. O São Carlos, nos seis anos que aqui estive, nunca se endividou e nunca pedidiu um reforço orçamental. Vieira de Carvalho quer que "o público não encontre a ópera fechada nem os bilhetes esgotados". Como se faz isso? Depois de ver que o público respondia bem comecei a aumentar o número de récitas de óperas como Così fan tutte, Turandot, La Traviata, L'Italiana in Algeri, que terá oito récitas, A Valquíria, que teve sete récitas, o ensaio geral aberto e mais duas transmissões no largo... É evidente que se poderia fazer mais mas é preciso mais orçamento.