6/21/2007

De Singapur a Alicante, pasando por Escocia

El Festival de Música de Alicante incluye en la programación de este año una coproducción del Theatre Cryptic y el T’ang Quartet. A partir de obras de Kevin Volans, Franghiz Ali-Zadeh, Rolf Wallin y Joby Talbot, Cathie Boyd, directora artística del Theatre Cryptic, y el T’ang Quartet, cruzando los límites de diferentes artes performativas, han concebido una especie de representación teatral de las piezas musicales elegidas. "Optical Identity" fue estrenado hace unos días en el Festival de Singapur y será presentado el próximo mes de agosto en el de Edimburgo.

Pasen y vean. O, mejor, pasen y escuchen. Escuchen los cuerpos de los músicos del T’ang Quartet y vean la música de Franghiz Ali-Zadeh que ellos interpretan:

Atalhos

Conforme pode ler-se aqui, esta Primavera, Pedro Carneiro, Teresa Simas e Alexandre Dias decidiram fundar a Orquestra de Câmara Portuguesa. As audições estão actualmente a decorrer e o seu primeiro concerto tem data marcada para o próximo dia 13 de Setembro, no CCB, sob a direcção de Pedro Carneiro.

O nome surpreendeu-me: não conhecia esta faceta da sua personalidade artística, que muito admiro, e também não a vejo reflectida na sua biografia oficial. Mas adiante.

Actualmente há, que eu me lembre, três orquestras profissionais sem casa própria em Lisboa: a Sinfónica Portuguesa, a Metropolitana e a Sinfonietta de Lisboa, para além da Sinfónica Juvenil, da Académica da Metropolitana e da Orquestra Jovem do Conservatório Nacional. Não acham um pouco estranha a ideia de criar, do zero, mais uma, promovida aliás pela única casa decente disponível em Lisboa para acolher um agrupamento deste tipo? Será tão complicado falarem, negociarem, chegarem a acordos as instituições já existentes? Esta é, obviamente, uma pergunta retórica: é, de facto, muito complicado, mas tenho o preconceito conservador de que essa é a única via sensata para criar um tecido cultural estável, sem atalhos e protegido de veleidades senhoriais.

Mas, se calhar, digo isto por causa desta época do ano, em que já começo a ver as coisas iluminadas pela agressiva e indiscreta luz do sol estival. Bem pensado, talvez chegou o momento de eu também fazer uma proposta ao CCB. Não sei ainda qual, mas para já, tal como a de Pedro Carneiro, prometo que será ambiciosa.

6/20/2007

Mais sobre o ensino artístico na perspectiva do utente

Agora ando bastante entretida com o trabalho, mas nas pausas para o café lá vou visitando os blogs dos outros: por exemplo, o Ideias Soltas, através do qual regressei ao Insustentável. Ali, o Rogério, num post a propósito da reforma do ensino artístico, narra, na primeira pessoa um recente episódio ilustrativo da sua experiência como utente.

6/17/2007

Ensino artístico

Tenho vindo a acompanhar os debates blogosféricos suscitados pelo Relatório de Avaliação do Ensino Artístico, encomendado pelo Ministério da Educação. Agora acabei de ler o que o Carlos tem escrito sobre o mesmo aqui, aqui e aqui. Nesses posts, desvenda as implicações que – no mundo real – têm as decisões legislativas baseadas no tal relatório.

Conheço essa realidade apenas como utente. Tenho uma filha que, coitada, já se resignou à ideia de que vai ter de aprender a tocar um instrumento musical daqueles que, daqui por umas décadas, só serão lembrados em imagens procuradas através do google. Sendo a mãe integralista que podem ver que eu sou, fiquei particularmente satisfeita, quase comovida, quando, folheando o dito Relatório, os autores me informaram de que, lá no fundo, o que eu tenho é mania de grandeza e a suspeita esperança da minha filha vir a pertencer à elite.

Leiam os posts do Carlos, sobretudo porque ele nunca perde de vista o essencial: a grandeza da música e os caminhos tortos através dos quais os nossos governos fazem com que a ela só tenha acesso uma minoria. Em Espanha consolamo-nos a pensar que, afinal, estamos melhor do que antigamente, mas a realidade é, por exemplo, que as escolas de música municipais com capacidade para pouquíssimos alunos recebem, anualmente, centenas de petições desatendidas de pais desejosos de dar aos seus filhos uma educação musical decente. Há alguns tempos admirei-me ao descobrir que o mesmo acontece em França: falei aliás na altura sobre isso no blog. Obviamente isto é apenas aquilo em que pode reparar uma utente, deixo o resto para os profissionais na matéria.

No entanto, achei curiosos os preconceitos que os autores revelam nos parágrafos em que abordam, displicentemente, o assunto da história do ensino musical em Portugal. O primeiro é um preconceito de género. A feminização do corpo de estudantes não deve ser visto, como eles fazem, apenas como a consequência do desejo das famílias burguesas de "adornar" - pecado nefando, pelos vistos - as suas mulheres com o estudo da música: não podemos esquecer que o conservatório formava principalmente profissionais e que foram numerosas as mulheres que, sendo-lhes vedadas outras vias de desenvolvimento laboral, conseguiram alguma independência económica pela via da docência no domínio da música.

Isto leva-me ao segundo assunto, que se liga com um preconceito de classe: pelos vistos, só a "elite" tem tido tradicionalmente acesso ao ensino oficial da música em Portugal. Será que a "elite" que comprava cada temporada os vestidos e o enxoval em Paris e podia pagar colégios e tutores privados inscrevia, mesmo, as suas criancinhas no conservatório? Teria gostado de ter percebido melhor qual é a elite em que estavam a pensar quando redigiram o dito relatório: talvez fosse naquela que, em tempos remotos, acreditou no Estado.

Soa como música

Quando se atinge uma certa idade, procuram-se outras coisas... no google. Pelo caminho, chega-se também a blogs como este. O que lá está escrito soa como música. Ouçam só:
Jovencísimo color rojo cereza con ribete violáceo, de capa media. En nariz presenta aromas de fruta roja fresquísima (cerezas, grosellas), agua de rosas, violetas, tierra húmeda y algunas notas lácteas. En boca la primera sensación que destaca es también el frescor. Tiene una magnífica expresión frutal, es vivo, grácil, equilibrado, con una estructura tánica tremenda.

Mmmmh.

6/15/2007

Les Émanglons: Moeurs et coutumes

Sans motifs apparents, tout à coup un Émanglon se met à pleurer, soit qu'il voie trembler une feuille, une chose légère ou tomber une poussière, ou une feuille en sa mémoire tomber, frôlant d'autres souvenirs divers, lointains, soit encore que son destin d'homme, en lui apparaissant, le fasse souffrir.

Personne ne demande d'explications. L'on comprend et par sympathie on se détourne de lui pour qu'il soit à son aise.

Mais, saisis souvent par une sorte de décristallisation collective, des groupes d'Émanglons, si la chose se passe au café, se mettent à pleurer silencieusement, les larmes brouillent les regards, la salle et les tables disparaissent à leur vue. Les conversations restent suspendues, sans personne pour les mener à terme. Une espèce de dégel interieur, accompagné de frissons, les occupe tous. Mais avec paix. Car ce qu'ils sentent est un effritement général du monde sans limites, et non de leur simple personne ou de leur passé, et contre quoi rien, rien ne se peut faire.

On entre, il est bon qu'on entre ainsi parfois dans le Grand Courant, le Courant vaste et désolant.

Tels sont les Émanglons, sans antennes, mais au fond mouvant.

Puis, la chose passée, ils reprennent, quoique mollement, leurs conversations, et sans jamais une allusion à l'envahissement subi.

*

La musique y est discrète. Les musiciens davantage. Ils ne se laissent pas voir dans le moment qu'ils en font.

Un jour, l'un d'eux, qui jouait dans le salon, s'imaginant que je l'observais, manqua de s'éttouffer de honte; or je ne l'avais même pas entendu tant il jouait doucement.

Leur musique en sons mourents semble toujours venir à travers un matelas. C'est ce qu'ils aiment: des souffles ténus, partis on ne sait d'où, à chaque instant effacés, des mélodies tremblantes et incertaines, mais qui s'achèvent en grandes surfaces harmoniques, larges nappes soudain déployées.

Ils aiment davantage encore l'impression que la musique se déplace (comme si les musiciens contournaient une montagne, ou suivaient une ruelle sinueuse), se déplace et vient à eux comme au hasard des échos et des vents.

Henri Michaux, Voyage en Grande Garabagne (1936)

6/14/2007

Lang Lang: o último post



A conversa foi breve: ou, ao menos, eu fiquei com vontade de falar mais um bocado com ele. Deu a imagem de alguém calmo, inteligente, sensível e observador e que, para além de uma pontinha de inocência, tem imensa curiosidade pelo que o rodeia. Tem a voz agradável e hoje faz 25 anos.

Amanhã, começa uma breve digressão por diversas cidades alemãs acompanhado pela Orquestra Gulbenkian e Lawrence Foster.

6/12/2007

Shakira y Beyoncé

Sí, han leído bien: Shakira y Beyoncé. Y no, no van a participar en ninguna producción del Palau de les Arts. Es sólo que hoy, en uno de los cafés del campus, he visto su último vídeo, en el que cantan a dúo una canción titulada "Beautiful Liar". Admito que, si no fuera porque Shakira me cae bien, ni siquiera lo comentaría. Como ven, siempre necesito algún tipo de justificación emocional para interesarme por las cosas.

Decía yo que Shakira me cae simpática. Creo que hubiera fingido con facilidad algún género de solidaridad si a algún novio mío le hubiera ocurrido lo que a Alejando Sanz en el vídeo de "La Tortura". Me acuerdo de un verano durante el cual, en todos los taxis que cogí, tuve el raro placer repetitivo de escuchar aquello de "Underneath Your Clothes". Y tuvo cierta gracia ver el verano pasado a mi hija imitando muy seria las coreografías de "Hips don't Lie". Mezcla pop y referencias a la música latinoamericana, así como a Colombia y a la cultura libanesa, de la que forma parte por sus ascendentes familiares. Todo bien. Es un multiculturalismo ligero y despreocupado que no hace demasiado daño.

Pero hoy, el toque "orientalista chic" del vídeo me ha molestado. No por la presencia de Beyoncé, una especie de Barbie a la que nunca había prestado ninguna atención, ni tampoco porque la canción sea mala, ni siquiera por una cuestión de militancia feminista, sino porque, figúrense, me he acordado de Iraq y de lo que en esos momentos se estaba viviendo en Palestina y, de repente, lo que se veía en la pantalla me ha parecido de una frivolidad siniestra y monstruosa.

El mérito no es mío: se es más sensible a esas cosas cuando se ha leído a Edward Said, claro.

6/11/2007

Memento

Entre texto de escravatura e texto de escravatura, fui dar um pulinho ao Bandeira ao Vento, que é muito melhor do que qualquer bola anti-estresse.  Graças a ele, deparei-me con esta maravilha. Com uma breve sessão de leitura aleatória, acabo de matar algumas saudades da Arcádia, do tempo em que brincávamos aos tradutores e as noites pareciam não ter fim. Volto para a escravatura.

Fuga



Tenho de fazer a crítica à reedição das Variações Goldberg de 1955, lançada este ano pela etiqueta Membran. A minha primeira reacção foi fugir, claro, empurrada pelo próprio Gould para os braços de Baudelaire. E apareceu isto no google:
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.

Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

Que levou depois a isto, para acordar de vez:

Ma petite folle bien-aimée me donnait à dîner, et par la fenêtre ouverte de la salle a manger, je contemplais les mouvantes architectures que Dieu fait avec les vapeurs, les merveilleuses constructions de l'impalpable.

Et je me disais, à travers ma contemplation: "- Toutes ces fantasmagories sont presque aussi belles que les yeux de ma belle bien-aimée, la petite folle monstrueuse aux yeux verts."

Et tout à coup je reçus un violent coup de poing dans le dos, et j'entendis une voix rauque et charmante, une voix hystérique et comme enrouée par l'eau-de-vie, la voix de ma chère petite bien-aimée, qui disait: "- Allez-vous bientôt manger votre soupe, sacré bougre de marchand de nuages?"

6/08/2007

Quem não tem mesura

"Aprobarlo todo suele ser ignorancia; reprobarlo todo, malicia." Esta é uma das citações mais conhecidas de Baltasar Gracián, da qual me tenho lembrado nestes dias lendo os comentáros blogosféricos ao Macbeth do São Carlos.

Por meu turno, ando entretida a acabar a minha crítica para Mundo Clásico. Posso no entanto adiantar, coincidindo com alguns comentários, que a Theodossiou não é a Verrett, que a Elena Barbalich não é o Strehler e que o Pirolli também não é Abbado, mas não nos enganemos: nenhúm de nós é Heinrich Heine, Harold C. Schönberg, Fedele d'Amico, nem tampouco Manuel de Lima.

6/07/2007

Lang Lang, mais uma vez

Isto tem andado um bocadinho abandonado, mais do que por causa da Primavera, que también, devido à proximidade do Verão: chegou o fim do ano lectivo, há artigos para acabar, tenho de preparar os exames, essas coisas.

Temo que o blog vai ficar neste estado, inerte e pré-férias, durante as próximas semanas.

No entanto, no meio da burocracia académica, e no seguimento das nossas conversas bolgosféricas a propósito do Lang Lang, vai acontecer uma coisa com piada: na próxima segunda vou ter a oportunidade de falar com ele.

Depois digo alguma coisa.

6/02/2007

Retratos del poder

No deja de tener una leve punta de ironía que las dos primeras óperas montadas en São Carlos después del cese de Paolo Pinamonti – y por él programadas antes de su salida – hayan sido un Rossini cuyo título podría ser parafraseado con otro – El italiano en Portugal , claro – y una segunda ópera también “política”, en este caso de Verdi: el terrible Macbeth.

Si en la primera lo que vemos en escena es el poder ejercido por el bufo Mustafá hábilmente manipulado y contornado por la italiana mediante su inteligencia y su belleza, en la segunda, asistimos a la carrera de un guerrero transformado en dictador mediante el recurso de la fuerza y de la magia negra. La inteligente, bella y también maléfica Lady Macbeth es una especie de Isabella al revés.

Mustafá es atrabilario, pero también sibarita, además de argelino, así que acaba por caer simpático. Sin embargo, Macbeth representa, no sólo la sed ciega de poder, sino el más absoluto desprecio por la vida: “… que importa?... / È il racconto d’un povero idiota; / Vento e suono che nulla dinota!”. Terrorífico. El aparente final feliz de la ópera no consigue borrar de la memoria los sucesivos baños de sangre en los que se funda su reinado de pesadilla, durante el cual llega a robar a sus compatriotas la patria misma. Nos deja entreviendo en la penumbra los entresijos y los silencios que permiten que los tiranos emerjan.

6/01/2007

Macbeth



Não é Johan Reuter, evidentemente, mas poderia sê-lo.

O seu Macbetto parece-me motivo suficiente - e há mais alguns - para aconselhar nestes dias uma ida ao São Carlos.