Hoje, apesar da primavera, passei o dia na Biblioteca Nacional. Estou na fase final da edição da correspondência do Fernando Lopes-Graça com os escritores ligados à revista presença (Casais Monteiro, José Régio, Gaspar Simões, entre outros), pelo que ando muito entretida a ler escritos literários e imprensa, sobretudo dos anos 30. O lado menos interessante deste trabalho é que tenho andado a documentar algumas mesquinhices. O melhor, é que me fez descobrir Adolfo Casais Monteiro: grande homem, grande intelectual e grande escritor.
Depois, ao fim da tarde, fui ouvir a conferência do António Pinho Vargas na Culturgest. Aprende-se muito escutando música escolhida por outra pessoa e complementada com comentários pertinentes. É admirável a maneira como a «mão» de cada compositor se torna claramente distinta quando comparada com a dos outros, especialmente quando o «choque estilístico» é inesperado porque não se tinha escutado previamente as obras em causa no mesmo alinhamento.
O que ficou para mim foi a ideia de que a série tem funcionado nos discursos sobre música do século XX como uma espécie de fetiche, no sentido em que Theodor Adorno usou o termo para criticar a função da música na indústria cultural. Ele dizia, por exemplo, que a melodia era nas canções comerciais um pretexto para não ter de pensar a música como um todo. Por vezes, a série (e quem diz série, diz receita...), tal como é apresentada em muitos textos pedagógicos de história da música e de análise (e também nalgumas obras...), também parece um pretexto para não ter de pensar a música como um todo.
(Ouvimos, entre outras, obras de Schönberg, Webern e, ainda, excertos de duas das peças “seriais” de Stravinsky).