3/03/2005

Parêntese: Filipe Pires, Prémio Almada para a Música

O compositor Filipe Pires (n. 1934) tem sido distinguido, este ano, com o Prémio Almada para a Música. Aqui ficam os meus parabéns e uma breve resenha biográfica onde se podem encontrar alguns dos motivos nos quais se fundamenta este merecido prémio. O texto que se segue é a entrada que irá ser publicada na édição revisada do dicionário alemão Die Musik in Geschichte und Gegenwart.

- o -

Compositor e pianista. Estudou no Conservatório Nacional de Música de Lisboa (1946/53), tendo sido aluno de Lúcio Mendes (piano) e Artur Santos e Jorge Croner de Vasconcelos (composição). Prosseguiu a sua formação em Hannover (1957/60), como aluno de Winifried Wolf (piano) e Ernst-Lothar von Knorr (composition). Na década de 60 frequentou os cursos de Darmstadt, tendo estudado ainda com Hans Joachim Koellreuter (1965) e Pierre Schaeffer (1970-2). Professor de composição no Conservatório de Lisboa (1972/75) e na Escola Superior de Música do Porto (1993-). Trabalhou como assessor musical para o Secretariado Internacional da UNESCO, em Paris (1972/75). Presidente da Juventude Musical Portuguesa (1979/91). Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (1979/91, 1998/2001).

Obra musical
(Editores principais: Quantitas e Fermata, Porto; Arte Tripharia, Madrid; ARE, Mainz)

A. Música vocal 2 cantigas de amigo (Rei D. Dinis, Rei D. Sancho I), voz e piano (1949) <> 3 poemas de Fernando Pessoa, voz e piano (1954) <> 6 poemas de Eduard Mörike, para SATB (1958) <> Regresso eterno (Rui Cinatti), Barítono/recitante, orquesta (1961) <> Portugaliae génesis (textos de vários autores em português e latim), Barítono, coro (SATB), orquestra (1968) <> Canção IV de Camões para SATB (1980) <> Canções corais (vários autores) para SATB (1981)

B. Música instrumental

I. Obras para orquesta Regresso Eterno (1961) <> Akronos para orquestra de cordas (1964) <> Partita para orquestra de cordas (1953, 1966) <> Mobiles (1968/69) <> Sintra (1969) <> Variantes (1979/80) <> Evocações (1988) <> Epos (1989/91) <> Os sons abandonados (2000)

II. Música de cámara Sonatina para violino e piano (1952) <> Sonatina para violoncelo e piano (1954) <> Quarteto de cordas (1958) <> Perspectivas para 3 grupos instrumentais (1965) <> Diálogos para flauta, violino, violoncelo, percussão, guitarra, harpa, piano e fita magnética (1975) <> Ostinati para 6 percussionistas (1979) <> Monólogos para flauta, clarinete, violino, vila, violoncelo, contrabaixo e piano (1983) <> Septeto para 3trompetas, trompa, 2trombones, tuba (1985) <> Stretto para dois pianos (1987)

III. Instrumento solo Partita para piano (1953) <> Sonata para piano (1953/54) <> Figurações(I-VIII) para flauta, piano, dois pianos, harpa, saxofone alto, marimba, guitarra, fagote (1968/95) <> Estudos de sonoridades para piano (1993)

C. Música electrónica (fita magnética) Os Persas (1970) <> Homo Sapiens (1972) <> Litania (1972) <> Reportagem (1974) <> Canto Ecuménico (1979)

D. Teatro musical Tordesyalta (1982/83) <> Zoocratas (1984/87)

É um dos compositores que, sobretudo nas décadas de 60 e de 70, mais contribuíram para a difusão das principais correntes da vanguarda musical em Portugal. A sua linguagem neoclássica inicial teve um primeiro ponto de viragem em 1954, marcado pelo uso crescente do cromatismo. A partir de 1958, a sua obra evidencia a assimilação do método dodecafónico e das experiências seriais europeias, assim como a exploração das vias abertas pela aleatoriedade. Em 1970, coincidindo com o seu período de aprendizagem junto de Pierre Schaeffer, começou a interessar-se pela música electroacústica, tendo sido um dos pioneiros da música concreta em Portugal e, nos anos 80, aplicou na composição técnicas minimalistas. Tem usado nas suas composições elementos característicos da linguagem musical de tradições não ocidentais, nomeadamente escalas e elementos rítmicos.