Para complicar mais as coisas, ando também a ler Nietzsche. Graças a uma conferência que fiz na Livraria Eterno Retorno (sobre a recepção da Tetralogia e do Parsifal em Lisboa), fiquei a saber da importância que o filósofo teve em Portugal, sobretudo a partir de 1909. Foi Nuno Nabais (professor e filósofo, especialista em Nietzsche) quem amavelmente me chamou a atenção para isso.
Custa acreditar até que ponto a «doutrina» da quarta intempestiva (dedicada, como se sabe, a Wagner e inspirada pelos seus escritos) moldou os artistas posteriores preocupados pela questão da «arte social». Está lá tudo: a luta contra a arte como «luxo», o significado da «necessidade» da arte, o público como «voyeur», a «plasticidade» da nova música, o papel do «povo» e da «língua», a procura e invenção do novo «estilo»...
Na segunda intempestiva, Nietzsche alerta-nos contra o poder letárgico da história... a nós, que, no século XXI, ainda não conseguimos libertarmos dele.