1/30/2007

Pinamonti na Corunha

E o Teatro de São Carlos acaba de enviar a correspondente nota de imprensa, dando a notícia. Não se diz se Pinamonti "troca" ou "combina" ambas as cidades.

A minha ligação com A Corunha, sem ser demasiadamente profunda, vem de longe. Tenho acompanhado com entusiasmo os seus projectos culturais e considero-os um modelo, nomeadamente no que diz respeito à sua integração na cidade.

É também verdade que não moro lá, e talvez por isso a minha impressão seja demasiadamente optimista. Faço esta ressalva porque, ultimamente, algum aluno meu, galego, tem criticado certa tendência para a megalomania musical na Corunha. Mas, que querem que lhes diga, a ópera e a música sinfónica são megalómanas por definição. Sem os delírios de grandeza de Beethoven, Wagner ou Mozart, por exemplo, a nossa história cultural seria bastante diferente. Sei que a argumentação é circular. Ou seja: apreciar Mozart supõe um enorme investimento que só se faz... no caso de se apreciar Mozart. Este é, porém, outro assunto, fica para outro dia.

Voltando ao Festival Mozart e à Corunha, onde também reside a Orquesta Sinfónica de Galicia, uma das melhores de Espanha, cabe dar os parabéns aos responsáveis pela escolha de Paolo Pinamonti. Só O Rapto do Serralho, segundo Strehler, de 2005 ou o Così com que deu início a presente temporada no São Carlos seriam já razões para isso.

(o passarinho falador, que, nesta ocasião, era um passarinho galego, citava o Ópera e demais interesses, por supuesto)

Disse-me um passarinho...

que Paolo Pinamonti troca Lisboa por Corunha, como director artístico do Festival Mozart a partir de Julho de 2007.

1/26/2007

Rosado en estado de gracia

Y después de hablar sobre Artur Pizarro es casi inevitable hablar sobre António Rosado. En realidad, hay otras razones de mayor peso para comentar la carrera de Rosado, quien, a pesar de ser uno de mis pianistas preferidos, no había salido nunca en este blog. Y eso que algunos de los mejores conciertos a los que he asistido en los últimos meses lo tuvieron a él como protagonista. La ausencia dice bastante de la desorganización editorial que por aquí reina.

En cerca de dos años, António Rosado ha lanzado en Portugal dos grabaciones excelentes dedicadas a la obra pianística del compositor Fernando Lopes-Graça. Editadas por la etiqueta Numérica, no me consta, infelizmente, que hayan traspasado las fronteras del país. La primera contiene la integral de las sonatas para piano y la segunda, las ocho suites escritas por Lopes-Graça In memoriam Béla Bartók.

Sobre las sonatas ya comenté alguna cosa en el Mil Folhas, el suplemento de cultura del periódico Público, cuando salieron. Son uno de los núcleos fundamentales de la producción pianística, de por sí relativamente vasta y significativa, de Lopes-Graça (cabe referir que el compositor era un buen pianista, formado en la escuela de José Viana da Mota). La primera de sus sonatas data de mediados de la década de los 30 y la última, de los 80. Fueron siendo compuestas, por lo tanto, a lo largo de cinco décadas, reflejando las transformaciones del estilo del compositor.

Las ocho suites constan de un total de cincuenta y cuatro piezas breves, organizadas según un criterio de dificultad progresiva. Eso puede explicar que una música que, en términos globales, en el primer CD es interesante, pase a ser fascinante en el segundo. António Rosado despliega en la interpretación de todas las piezas una variedad deslumbrante de recursos técnicos y expresivos, transformando cada uno de estos pequeños "momentos musicales" en algo único y especial.

(perdón por el aparecimiento/desaparecimiento de este post: no lo pude acabar ayer y lo publiqué sin querer, pensando que lo había guardado como borrador)

A arte da hermenêutica

A entrevista dada pelo Secretário e Estado hoje ao DN torna mais pertinente, se cabe, a série de artigos dedicados à gestão da ópera publicados este mês por Augusto M. Seabra no sítio da Culturgest. Ponderem, para comprová-lo, o conteúdo das seguintes afirmações: "O São Carlos não é para servir o projecto do director artístico. Este é que serve o projecto do São Carlos. E este é definido pelo Governo."

Confirma, ainda, que o diálogo do actual director do Conselho Directivo do Teatro Nacional de São Carlos com a tutela é de surdos. Onde um fala de tempo e de dinheiro ("Uma fusão agora, nestas condições financeiras, é caminhar para o abismo"), o outro fala "apenas de projectos" (e de velocidades de cruzeiro, de contratos-programa definidos em dois meses, de "abertura" para a negociação de possíveis reforços financeiros, de que um repentino corte orçamental de 682 mil euros não é "razão" para a programação de um teatro ser alterada!).

1/23/2007

Ravel solar

El de Artur Pizarro, por supuesto. Acabo de encontrarme con el anuncio del lanzamiento del primer volumen de su integral raveliana. Está en la página de la Linn Records, donde se pueden escuchar fragmentos de todos los cortes mientras se espera hasta el 5 de febrero.

Moby Dick no São Luiz



A não perder. Algumas das razões estão aqui e aqui. Encena António Pires.

Ray y Ruth



Uno de los más recientes lanzamientos de la Naxos es el segundo volumen de transcripciones pianísticas de obras de Bach en interpretaciones históricas. Ahí podemos encontrarnos, entre otros, con Egon Petri, Edwin Fischer y Percy Grainger. Valdría, sin embargo, la pena sólo por los tres cortes que ocupa el concierto para órgano en re menor BWV 596, un arreglo de uno de los conciertos para violín de Vivaldi (RV 565), a su vez, transcrito e interpretado por Ray Lev (en la foto) en 1946. Hacía tiempo que no me quedaba así, casi sin respiración, escuchando una grabación.



Hace poco, la Naxos sacó otro CD donde se incluye otra interpretación de la misma pianista, esta vez de una piececita de Prokofiev. Se trata del primer volumen de la serie "Women at the Piano", donde están representadas, entre otras, Guiomar Novaes, Myra Hess, Marguerite Long y Moura Lympany, además de otra pianista también impresionante: Ruth Slenczynska (en la segunda foto, con 8 años), a la que no conocía.

1/22/2007

Eu também lamento

Por causa do respeito que me merece o compositor Emmanuel Nunes, não posso deixar de lamentar o teor do depoimento que deu a semana passada ao jornal PÚBLICO, sob o pretexto do ciclo que lhe está a ser dedicado na Casa da Música. É no mínimo deselegante o que disse a propósito de Paolo Pinamonti, e são indignas as suas "provas". Nunes deixou aliás ficar muito mal quem lhe segredou os desígnios - ministeriais, podemos supor - que farão mudar a política do São Carlos "brevemente" e que tornarão possível, na versão dos factos por ele apresentada, a montagem da sua ópera em 2008.

O Henrique transcreveu neste post as declarações. E este é o esclarecimento de Pinamonti, enviado hoje pelo gabinete de comunicação do Teatro Nacional de São Carlos à imprensa:

Eu, Paolo Pinamonti, na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos, encomendei a Emmanuel Nunes uma ópera em Fevereiro de 2002. A encomenda foi aceite pelo compositor. Posteriormente, contactei a Fundação Calouste Gulbenkian e a Casa da Música para parceiros da encomenda e para co-produtores. É com satisfação registo que este projecto, por minha iniciativa e do São Carlos, se realiza com o apoio de duas importantes instituições musicais portuguesas e do IRCAM de Paris. Na qualidade de Director do Teatro Nacional de São Carlos tenho a responsabilidade de programar a actividade do Teatro e de avaliar as condições técnicas e artísticas de realização de cada projecto. Sempre foi assim e assim será de futuro, de resto, no âmbito do exercício normal das minhas competências. Entre Janeiro de 2003 e Setembro de 2004, a estreia da ópera foi adiada três vezes sucessivas a pedido do próprio compositor. Depois de ter sido concordada a nova data de 22 de Novembro de 2006, enviei ao compositor uma proposta de contrato, a 1 de Fevereiro de 2006, na qual, naturalmente, se encontravam definidas as datas para entrega dos materiais musicais. O compositor não assinou o contrato – até à data este permanece por assinar – e, mais uma vez, foi adiada a data de estreia. Depois de tantos adiamentos, foi meu entendimento que a estreia da ópera de Emmanuel Nunes teria de reunir todas as condições para se estrear no nosso Teatro, no final de Janeiro de 2008.

Lamento profundamente as afirmações proferidas pelo compositor Emmanuel Nunes ao jornal Público, nas quais transparece ter informações privilegiadas quanto a futuras mudanças na política do São Carlos.

Normalidade e downsizing

Na quinta passada, no artigo de Paulo Rangel (sem link, no PÚBLICO, claro), comentava-se a mania compulsiva que têm os Governos de sublinhar que está tudo dentro da ordem democrática quando algum dos órgãos do Estado, exercendo as suas funções, reage perante uma das suas decisões. Por causa desse artigo, achei ainda mais piada, algumas páginas depois, a este comentário da responsável pelo gabinete de comunicação do Ministério da Cultura: "São situações normais, é o funcionamento da democracia". Vinha a propósito do esclarecimento solicitado por três diputados do PS a propósito da fusão do São Carlos com a Companhia Nacional de Bailado.

Hoje, também no PÚBLICO, Tiago Bartolomeu Costa (do excelente O Melhor Anjo), opina sobre a tal fusão. Fala em dinheiro, como era de esperar, assinalando o fundamental: "o modelo [de fusão] proposto pelo MC tem como exemplos a Ópera de Paris, o La Scala e a Royal Opera House de orçamentos cinco vezes superiores ao acumulado CNB/TNSC". Os números que o Tiago aponta no seu artigo dão, de facto, que pensar, porque colocam a questão da margem orçamental que um teatro ou uma companhia de bailado precisam para ser verdadeiramente eficientes, ou seja, para que do investimento que se faz neles se obtenha algum retorno. Assim, o 75% do orçamento do CNB destina-se a despesas fixas, o que é uma espécie de estrangulamento do que deveria ser a sua finalidade principal, à qual se dedica apenas o 25% restante. Afinal de contas, poupar sai caro.

O Tiago (tal como José Sasportes, neste artigo publicado pontualmente no DN) fala dos efeitos que a fusão numa nova estrutura denominada OPART poderá vir a ter na perspectiva do CNB. Paolo Pinamonti já referiu em várias entrevistas as consequências na perspectiva do TNSC. Por exemplo, nesta, também publicada pelo DN.

Já se conhece, pelo que está a acontecer há anos com a OSP, o efeito do downsizing na sua versão anoréxica no âmbito da gestão cultural tutelada pelo Ministério. Por analogia, o exemplo parece confirmar as previsões no que diz respeito à CNB. A indefinição absoluta da OSP enquanto agrupamento deriva-se directamente da sua fusão com o Teatro Nacional de São Carlos. Desapareceu aquele horroroso "Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro Nacional do São Carlos", mas, mesmo assim, o seu perfil artístico não existe. É aliás de temer que, a seguir, os responsáveis por esta situação, deitando a mão à retórica do mercado, tão à la page, acabem por chegar rapidamente à conclusão de que ter uma orquestra sinfónica é um "desperdício", incongruente numa nova estrutura vocacionada para a "produção" artística". Tudo o que pode piorar, piora...

1/16/2007

Uma forma de plágio

O amigo e colega de blogosfera Arauxo comenta neste post os acontecimentos derivados do último artigo dominical do provedor do jornal PÚBLICO. Depois de ter lido o seu artigo, fui ver o blog do dito provedor, porque o assunto me interessa muito. Isto é compreensível, na medida em que passo muito tempo a escrever textos que, inevitavelmente, se baseiam em informação proveniente de fontes muito diversas. Estando de acordo na premissa fundamental (plagiar é uma coisa muito feia, sim senhor), acho, porém, bastante descabidos os desenvolvimentos deste caso, o affaire Barata, resumido, de resto, pelo Arauxo.

Fui buscar mais alguma informação referente à jornalista do San Antonio Express News que tinha sido despedida por não citar a wikipedia. Acontece que a tal jornalista assinava regularmente uma coluna de opinião e que esta era a terceira vez que copiava literalmente e sem citar frases inteiras de fontes alheias. Parece-me que não é justo fazer equivaler uma coluna de opinião a uma coluna de apoio a uma peça jornalística de carácter divulgativo no domínio das ciências da saúde. E este excesso faz-me perguntar, já agora, quem é que nos protege do provedor?

O senso comum faz-me pensar que os factos unanimemente aceites, por um lado, e as ideias e conclusões, por outro, não pertencem à mesma categoria quando estamos a falar de plágio. Este, aliás, pode apresentar muitas formas.

Há tempos, lembro-me de ter achado estranha a menção, numa coluna de apoio a um texto principal relativa à vida e à obra de um compositor, a referência à versão compacta das entradas biográficas do Grove, antigamente disponíveis na net (digo antigamente porque agora não fui capaz de encontrar nenhum exemplo).

Será preciso citar uma fonte para afirmar que Beethoven escreveu nove sinfonias? Ainda, citar, por exemplo, a última edição do Grove, seria compreensível, porque supunha um acrescimo de informação. Mas ser obrigatório citar uma fonte que informa sobre um facto que, por sua vez, pode ser recolhido em múltiplas fontes? É um bocadinho ridículo.

Seja como for, a decisão é de natureza editorial e pode ser tomada, em benefício da transparência, depois de ter sido chamada a atenção para a omissão em causa. O que não se explica é que uma coisa destas se transforme numa espécie de caçada inquisitorial com direito à divulgação pública de mails que, mais uma vez, o senso comum coloca no domínio do privado. O PÚBLICO não é o Estado!

Depois da inanidade do affaire Equador discutido na mesma coluna do provedor (no blog aparece o epílogo, no post "A frase a mais"), parece que este queira deixar claro que conhece perfeitamente a definição do termo plágio.

Obviamente, este último comentário foi publicado "sem a devida confirmação em duas fontes diferentes e independentes entre si"! (fonte: Livro de Estilo do jornal PÚBLICO, onde se diz a propósito do "plágio": "O plágio é terminantemente proibido no PÚBLICO. Todas as informações recolhidas noutros órgãos de comunicação ou fornecidos por agências de notícias — no caso de relevância manifesta — devem ser sempre devidamente atribuídas. Ganha-se em credibilidade e vence-se noutra frente: na imagem de um jornal que dispensa a leitura de qualquer outro.")

De arcaismo e de tecnologia




Pascal Dusapin, hoje no Público (sem link), a propósito da sua Medea, amanhã em estreia na Casa da Música:

Eu fiquei muito tocado pela Media do Pasolini. Quando vemos esse filme [realizado em 1969], percebemos que o verdadeiro problema é que Medeia representa um mundo arcaico, alimentado de símbolos e de ritos, e que Jasão, no seu desejo de conquista, existe em todo o lado e representa um mundo cada vez mais tecnológico. Um dos problemas do mundo actual, a que há que fazer face, é que ele valoriza essa dimensão tecnológica mas fundamenta-se em valores extremamente arcaicos. Quando penso na questão do Médio Oriente, em que uma parte da população é capaz, hoje em dia, de se autodestruir para fazer valer as suas convicções..

De estradas rápidas

Os Contos Fantásticos, de Luís Tinoco, poderiam ser colocados no âmbito da relação entre ópera e cinema. Uso, porém, o termo ópera com enorme flexibilidade, já que, de facto, a voz humana que se ouve é a de um actor e os músicos da orquestra, em palco, são também personagens. Ainda, o que é paradoxal, é que custa imaginá-los reproduzidos em duas dimensões, limitados num ecrã.

Uma das peças intitula-se “A estrada rápida”. A partir de um texto de Terry Jones (actor, realizador e escritor britânico, membro do grupo Monthy Python), essa fábula relata-nos a história de uma menina que, de forma inexplicável, viaja a velocidade vertiginosa através de uma via rápida, atingindo espaços desconhecidos e vivendo situações assombrosas. A sensação da deslocação súbita apresenta também analogias com a maneira como pode abordada na escuta Round Time, a segunda obra orquestral de Tinoco, escrita em 2002. Cores, e espaços são apresentados a longo do único andamento de que consta a obra com uma rapidez alucinante, mediante sucessivos impulsos, estruturas acumulativas e gestos ascendentes. Em ambos os casos, é conseguido um momento - e um espaço - único e impossível de reconstituir através de meios de reprodução mecánica, ao mesmo tempo que se transmite ligeireza, impacto, espectáculo.

Luís Tinoco sublinha que em Round Time se preocupou principalmente com o que ele denomina “problemas de dimensão”: a dimensão vertical – o que fazer com tantos instrumentos? – e a dimensão horizontal – como controlar os recursos da orquestra no tempo?. A dimensão horizontal é aquela que se apreende mais facilmente numa primeira audição, ao longo da qual se torna evidente o efeito de continuum em que, usando as palavras de Tinoco, “se encadeiam uma série de eventos sonoros dotados de visualidade, de certo modo como um conjunto de painéis de um políptico”.

O políptico organiza-se mediante referências, subtis e não explicitadas pelo compositor, a uma espécie de sinfonia, que começa com um primeiro minuto de pura magia sonora. Depois desta introdução, que tem a virtude de nos colocar perante o nascimento de um acontecimento sonoro que tem qualquer coisa de matérico, encontramos os gestos enfáticos que associamos tradicionalmente ao primeiro andamento em forma de sonata. A seguir, temos uma espécie de scherzo em que se evidencia as técnicas de escrita repetitiva, um momento de serenidade e, por último, um finale que, embora preparado de forma evidente, nos conduz à súbita desaparição do som. Este deixa de existir de forma tão misteriosa como quando, no início, surgiu do nada.

Pode ser, ainda, escutado como uma viagem pelas memórias que preenchem a paisagem sonora do século XX: de Stravinsky a Ligeti, de Copland a Adams, do jazz à música electrónica.

1/15/2007

Blockbuster opera

Começo a pensar que estou com um sentido de humor péssimo ou, então, críptico (o que vem dar ao mesmo, dito seja de passagem). O meu post anterior não pretendia realmente começar nenhuma polémica. Daí o uso do termo “polemicar”, uma citação de Lopes-Graça que se referia às suas discussões jornalísticas com Rui Coelho com o termo “polemicadas”. E, desculpem a digressão, também não queria defender Saramago, o qual, para além de se defender muito bem a si próprio, não se conta entre as minhas preferências, apenas por mera incompatibilidade. Explico-me: eu gosto de Michaux, de Cortázar e de Capote o que é, de todo, inconciliável com a prosa do escritor luso.

O que andava a tentar evidenciar era a partilha de tipos de argumentos ou, menos pretensiosamente, de temas nas recepções mais ou menos críticas, e por vezes antagónicas, a duas óperas recentes. A primeira viu-se em Lisboa e em Milão, enquanto a segunda apenas foi apresentada em Nova Iorque. Esta última - The First Emperor, com música de Tan Dun - foi transmitida através da rádio no sábado passado.

A impressão que ficou foi a evidente: a intenção do compositor de fundir o drama lírico com referências à imagem sonora da China e uma produção típica da antiga grand opéra, historicista e servida por meios materiais estonteantes (10 anos de trabalho e custos que se elevam aos 2 milhões de dólares). A ópera colocou-se, portanto, na órbita do cinema, oferecendo inclusivamente uma estrela da craveira de Plácido Domingo como cabeça de cartaz. Não é, de todo, um fenómeno novo: ópera e cinema têm-se olhado mutuamente desde sempre.

Hoje em dia, o desafio deveria resultar ainda mais estimulante, perante vídeos como os que se seguem, criados com ferramentas que fazem de quem as usa uma espécie de deus sem limites.

1/10/2007

Todavía más maleficios

Y, por si fuera poco youtube, la integral de la obra de Mozart y el google de los libros, hace casi un año se estrenó en la red el International Music Score Library Project.

1/09/2007

De dissolutos e de imperadores

Como ando de rastos no statcounter, achei que seria uma boa estratégia polemicar um bocadinho com o Henrique. Trata-se de uma falsa polémica, claro: mas todos sabemos que este é um detalhe negligenciável quando falamos de audiências!

No seu blog lembrou o esquecimento a que todos – acho eu – votamos a estreia da ópera Il Dissoluto Assolto no Scala. De facto, na estreia, perante a presença dos autores, houve, conforme a fonte, vaias ou alguns assobios. No entanto, alguma outra crónica, aparentemente a propósito da mesma récita, não menciona o facto. O autor desta última crítica refere a perplexidade do público, que, segundo narra outra fonte, saiu como se fosse perder o último metro para chegar a casa. The Opera Critic também usa a palavra perplexidade para descrever a reacção do público a propósito da récita do dia 28.

No que diz respeito à obra, encontram-se comentários negativos a propósito do libreto e na avaliação global da montagem (fica a ideia de ter sido mortalmente aborrecida) e bastantes elogios à partitura. A mais grave crítica feita, não apenas ao texto, mas também ao próprio Saramago, é a que acusa a ambos de ingenuidade, o que, convenhamos, sendo suscitado por uma “releitura” do mito de Don Juan é bastante pouco simpático… No entanto, também houve quem não manifestasse nenhum reparo ao libreto. Já agora, o Henrique errou na sua profecia: não foi preciso esperar 100 anos, a ópera já foi objecto de uma comunicação apresentada num congresso de semiótica.

O erro do alinhamento (tal como em Lisboa, Il Dissoluto foi interpretado juntamente com a Sancta Susanna, de Hindemith) foi assinalado como motivo do insucesso global do espectáculo neste blog italiano. O argumento mistura-se com a reivindicação da produção dramática dos compositores italianos modernistas, nomeadamente, e com justiça, de Dallapiccola. Curiosamente, em Lisboa, houve quem avaliasse positivamente o texto de Saramago e negativamente a partitura de Corghi, aproveitando o ensejo para chamar a atenção para a produção musical portuguesa mais recente. Pode se comprovar neste artigo, assinado por Augusto M. Seabra.

Sabemos que o Scala tinha atravessado uma grave crise nos meses anteriores, que o seu público não é demasiado "aficionado" às novidades e que nas estreias de obras contemporâneas é bastante habitual a reacção perplexa de plateias quase vazias. Nada de novo, misturado, ainda, com a possibilidade de que na censura/elogio a Saramago haja motivações políticas e de que os elogios italianos a Corghi se devam a uma forma de proteccionismo cultural de carácter nacionalista.

Será, por isso, talvez, interessante comparar também o affaire milanês do Dissoluto Assolto com as reacções perante a recente estreia da ópera The First Emperor, de Tan Dun, no Metropolitan. Comparem-se aliás as dos críticos dos jornais de referência (este é um exemplo e este, outro) com a da crítica quase-blogosférica da Newmusicbox, que se remata, precisamente, com um debate acerca da utilidade dos críticos. Resumindo, para quem não tiver paciência: quem não gostou, compara The First Emperor com uma chávena de chá morno, embora salve (tal como aconteceu na estreia milanesa do Dissoluto Assolto, de resto) o empenhamento dos intérpretes, quem dá o benefício da dúvida, destaca os momentos bons da partitura e a necessidade de que os teatros de ópera promovam de forma regular as novas obras de compositores contemporâneos com o argumento, razoável, de que essa é a única forma de ganhar experiência no meio. Aplica-se particularmente aos romancistas metidos a libretistas!

Agora, serão os grandes teatros os responsáveis por incentivar estas tentativas? De facto - e tal como Augusto M. Seabra refere na crónica antes mencionada - uma das experiências de "teatro-musical" ultimamente mais bem sucedidas em Lisboa foram os fantásticos Contos Fantásticos estreados pela Orquestra Metropolitana de Lisboa no Teatro de São Luiz em 2006 (e que voltarão a ser montados em Fevereiro). Mas não são ópera.

Só mais uma coisita., Duvido que haja mais oportunidades de ver/escutar a obra da dupla Corghi/Saramago. A ópera de Tan Dun poderá ser escutada este sábado em directo do Met, pelas 18h30 portuguesas (por exemplo, através do site da Rádio Clásica espanhola). Plácido Domingo é o protagonista.

Lopes-Graça no Notas Soltas

Durante 2006, o Notas Soltas, o webzine do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, tem vindo a publicar uma série de artigos sobre a obra de Fernando Lopes-Graça, tal como se fez em 2002 para assinalar a passagem dos dez anos do falecimento de Olivier Messiaen. O resultado pode ser lido aqui.

1/08/2007

Más maleficios de internet

Para comenzar el año, un post fácil.

Después de youtube y de las obras completas de Mozart a golpe de click, sólo nos faltaba esto. No tienen el olor y el tacto de los libros, pero no pasa nada (ya estoy en la edad en la que parece conveniente convencerse de que lo mejor suele ser enemigo de lo bueno!).

2007

Here we go!