Paulo Gaio Lima, sereno e discreto. Admira e aprecia a «vontade de escutar» que têm as pessoas que acorrem à Festa. Lamenta-se do facto de, nos últimos vinte anos, se ter perdido em Lisboa essa qualidade de escuta, que ainda é possível encontrar noutras paragens. Por exemplo, na Turquia. Ali diz ter tido recentemente uma excelente experiência, tocando perante um público empenhado, atento, com as orelhas bem abertas... Ele consegue gerir bem a tensão de tocar ao vivo. Mesmo assim, diz que por vezes sempre fica preocupado até ao momento em que há qualquer passagem que corre menos bem: até que finalmente, agora é que posso continuar a tocar descansado.
François-Frédéric Guy, angustiado. Para este jovem pianista, ainda não foi possível atingir o equilíbrio: como conciliar um desenvolvimento criativo e individual com as necessidades diárias? manter o prazer pelo piano quando se tem contas para pagar, quando não se pode parar por isso? Tocar piano também pode ser uma prisão, sobretudo quando se imagina que apenas é possível fazer isso na vida.
Frank Brealey, pragmático. «Tocar piano é como o casamento. A única diferença é, que, no caso de um casamento não correr bem, é sempre possível tentar com um outro parceiro.»
Jean-Efflam Bavouzet, apaixonado. «Confusão? Qual confusão? É uma aventura.» Há doze anos teve um problema grave na mão direita e esteve quase para abandonar o piano. Não o fez e não se arrepende: «tenho a grande sorte de fazer aquilo de que mais gosto e de ganhar a vida com isso.» Para ele, é possível afirmar que o seu trabalho é também a procura do absoluto, que, por vezes não sabe se é ele a tocar o piano o de se o piano é que está a tocar com ele. Fidelidade absoluta à partitura, fazer com que o compositor se sinta satisfeito. Imaginar que Beethoven, se pudesse escutar a sua interpretação, ficaria contente. Com Boulez aprendeu a interpretar Beethoven, com Stockhausen, Schumann, e com Ohana, Ravel.