5/28/2007

O pianista que veio da China

Não descubro nada novo, eu sei, mas eles são mesmo diferentes. Este ano, tive em Salamanca uma aluna da Coreia. O tema do curso era o tratamento da música erudita na imprensa escrita. Ela contou-nos o que acontecia nos jornais do seu país. Começou assim: para vocês, ocidentais, a linguagem é comunicação, para nós, é poesia. Adivinharam, tenho a certeza, as dúvidas que tenho relativas ao meu sucesso pedagógico junto dela.

Mas adiante. Isto vem a propósito do concerto de Lang Lang e da Orquestra Gulbenkian, sob a batuta de Lawrence Foster. Os meus “contertulios” dos concertos, entre os quais se conta o Henrique, não gostaram do estilo do solista que, presumo, não deve poder ser desligado da sua experiência vital e cultural, dividida entre a China e os Estados Unidos. Um deles chegou a dizer que, até ouvir Lang Lang tocando Beethoven, nunca tinha imaginado que a distância entre nobreza e vulgaridade fosse tão curta. Era uma crítica negativa, mas, bem pensado, também poderia ser entendido como um elogio.

Do que escutei, apenas retive, e basta-me, o que foi acontecendo durante o Largo do primeiro de Beethoven. Especialmente, Lang Lang e Esther Georgie dialogando e envolvendo-se com a perfeição que só os verdadeiros músicos e algumas noites raras de Primavera propiciam. Afinal, parece que aprendi alguma coisa da minha aluna coreana.