4/23/2007

O meu calmo Dia da Música

Musicalmente, houve poucas surpresas nos Dias da Música. Muitos dos pianistas participantes já eram conhecidos em Portugal ou, conforme se podia adivinhar através dos seus curricula, sendo pianistas sólidos, não eram precisamente estrelas. O dito, porém, não deve ser entendido como uma critica negativa. Advirto ainda que só consegui ir ao CCB no domingo. Assisti, infelizmente, a poucos concertos e, portanto, estou a dar eco o que foi publicado na imprensa, que também não foi muito.

Do que escutei, ficam para a memória os dois recitais, excepcionais, que António Rosado e Artur Pizarro deram no segundo dia. Espero poder voltar a escrever sobre ambos num estilo menos telegráfico. Rosado nasceu para tocar Debussy. Interpretou o segundo volume dos prelúdios (fez a integral há alguns anos, também no CCB) com autoridade: alucinantes as cores e subtilmente controlada a flexibilidade rítmica, evidenciando a estrutura, todos os planos e a poesia próprias de cada peça. Brouillards surgiu do silêncio, criando um estado de escuta que permaneceu até aos fogos de artifício com que fecha o volume.

Artur Pizarro é, ao contrário do sempre sóbrio Rosado, um sedutor impenitente. Sempre que escrevo sobre ele acabo usando – ou querendo usar – adjectivos como mágico, surpreendente ou fascinante. Este recital não vai ser excepção. Mas o resto fica para outro post. Tenho de ir embora e também quero tentar escutar antes a gravação que fez da sonata de Liszt, incluída no programa, na década de 90.

Só mais três apontamentos:

1. Gostei muito de escutar Diana Vieira, aluna de Alexei Eremine na Metropolitana. Por ambos: pelo professor e por ela. Segura, sempre musical, Diana tocou muitíssimo bem a parte solista das Variações sobre o tema de Paganini, de Rachmaninov. Espero que consiga prosseguir serenamente o seu caminho e, desculpem o excesso de confiança, que não arranje namorado longe do lugar que escolha para dar seguimento à sua formação.

2. A propósito de Schlimé, de quem falei há dois posts, escutei-o de relance e acabei sem saber muito bem o que pensar. No entanto, continuo a apreciar os seus CDs (por exemplo, a sua versão do concerto em sol de Ravel, com Pletnev como regente) e acho graça à sua imagem de estrela techno-pop à mistura com posse decadente-lisztiana.

3. E, finalmente, é preciso assinalar o estrondoso sucesso de Maria João Pires no concerto de encerramento. Há reconciliações assim.