1/10/2005

Integral das sonatas de Lopes-Graça em CD


Posted by Hello

Até que enfim, Lopes-Graça! É a primeira coisa que dá vontade de dizer depois de escutar a recente gravação da integral das suas sonatas para piano na interpretação de António Rosado. Um compositor de primeira ordem e um extraordinário pianista reunidos em torno de um conjunto de obras que merecia ser melhor divulgado: estes elementos, a que se junta uma produção técnica de grande qualidade (ressalvando a pobreza do grafismo), fazem com que, sem qualquer dúvida, este disco deva ser considerado o registo do ano em Portugal.

Rosado tem seguido até hoje um percurso extremamente coerente e pessoal. Os seus concertos dos últimos meses têm revelado um artista no seu apogeu e, pelo que se deduz da comparação com os seus recitais de há dez anos, o futuro vai ser ainda melhor. Um pianista que toca regularmente obras de Schumann, Liszt e Prokofiev, como é o seu caso, é capaz de agarrar as seis sonatas de Lopes-Graça e delas extrair toda a essência pianística. Imaginação tímbrica, compreensão formal, absoluto controlo rítmico e emoção: está tudo nesta gravação. Ainda, o facto de ser uma integral contribui para a percepção da densidade do universo criativo do compositor através da audição de peças escritas entre finais da década de 20 e inícios da década de 80 do século XX.

Lopes-Graça contou sempre com excelentes intérpretes que defenderam em público e em estúdio as suas obras para piano. Os nomes das magníficas pianistas Maria da Graça da Cunha, Nella Maissa, Helena Sá e Costa e Olga Prats são a prova desta afirmação. Contudo, por diversas razões que se prendem com as adversas circunstâncias nas quais se desenvolveram as suas carreiras, é hoje difícil calcular o enorme esforço e a dura aposta que estas intérpretes fizeram ao incluir Lopes-Graça no seu repertório. Outros pianistas (Miguel Henriques e Miguel Borges Coelho) têm tocado regularmente Lopes-Graça, mas com consequências também modestas do ponto de vista da rentabilização do seu trabalho em concertos e em gravações comercialmente bem distribuídas. Esperemos que a coragem de Rosado e da Numérica, que teve o apoio da Câmara Municipal de Matosinhos, não tenha o mesmo fado.

Artigo publicado no suplemento "Mil Folhas" do diário PÚBLICO (11 de Dezembro de 2004)
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