Assisti às representações das três óperas de Verdi produzidas nas últimas semanas pelos principais teatros de ópera da Península: Real, Liceu e São Carlos, os quais apresentaram, por essa ordem, Macbeth, Rigoletto e Simon Boccanegra.
O compositor encarava as suas obras como um descarado apelo às lágrimas e eis que, por causa do bem doseado impacto emocional que elas procuram e conseguem provocar, lembrei-me das pertinentes análises do melodrama enquanto género literário que, nas últimas décadas, têm sublinhado o seu efeito catártico e ordenador. O melodrama reforça os valores partilhados pelo seu público e também os conforta. Transmite uma ideia de justiça e fâ-los acreditar na segurança da vitória final do bem (absoluto) na sua luta contra o mal.
Ou seja, é a natureza do género dramático por excelência no qual a ópera se fundamenta é inseparável do seu sucesso, indo para além do prazer sensual derivado de escutar uma voz bem trabalhada ou do prazer intelectual de admirar o talento dramático de determinados compositores, da demonstração no intervalo do estatuto social através do corte impecável dos fatos e da venerável e prestigiante antiguidade da maior parte do repertório operático.
Já agora, faço a ressalva de que assisti à representação do Liceu virtualmente, graças a um protocolo assinado pelo Teatro com a minha Universidade (e com algumas dezenas de Universidades mais, quase todas espanholas, mas entre as quais também se conta a do Minho). No âmbito desse projecto a imagem e o som de representações ao vivo são retransmitidos via Internet perante um auditório formado por estudantes universitários que se comprometem a assistir a todas as representações programadas.